Oração do Papa no final da Via-Sacra no Coliseu de Roma:
Senhor Jesus, o nosso olhar está voltado para ti, cheio de vergonha, de
arrependimento e de esperança. Diante do teu supremo amor, atravessa-nos a
vergonha por ter-te deixado só, a sofrer pelos nossos pecados:
A vergonha por termos escapado diante da prova, apesar de te termos
dito milhares de vezes: “ainda que todos te deixem, eu não te abandonarei
nunca”;
A vergonha de termos escolhido Barrabás, não a ti; o poder e não a ti;
a aparência e não a ti; o deus-dinheiro e não a ti; a mundanidade e não a
eternidade;
A vergonha de te termos tentado com a boca e o coração cada vez que nos
encontramos perante uma provação, dizendo-te: “se és o Messias, salva-te e
acreditaremos!”;
A vergonha porque tantas pessoas, mesmo alguns ministros teus, se
deixaram enganar pela ambição e pela glória vã, perdendo a sua dignidade e o
seu primeiro amor;
A vergonha porque as nossas gerações estão a deixar aos jovens um mundo
partido pelas divisões e pelas guerras; um mundo devorado pelo egoísmo, onde os
jovens, os pequenos, os doentes, os idosos são marginalizados;
A vergonha de termos perdido a vergonha; Senhor Jesus, dá-nos
sempre a graça da santa vergonha!
A esperança, porque a tua mensagem continua a inspirar, ainda hoje,
tantas pessoas e povos, porque só o bem pode derrotar o mal e a maldade, só o
perdão pode derrubar o rancor e a vingança, só o abraço fraterno pode dissipar
a hostilidade e o medo do outro;
A esperança, porque o teu sacrifício continua, ainda hoje, a emanar o
perfume do amor divino que acaricia os corações de tantos jovens que continuam
a consagrar-te as suas vidas, tornando-se exemplos vivos de caridade e de
gratuidade neste nosso mundo devorado pela lógica do lucro e do ganho fácil;
A esperança, porque tantos missionários e missionárias continuam, ainda
hoje, a desafiar a consciência adormecida da humanidade, arriscando a vida para
te servir nos pobres, nos descartados, nos imigrantes, nos invisíveis, nos
explorados, nos que passam fome e nos presos;
A esperança, porque a tua Igreja, santa e feita de pecadores, continua,
ainda hoje, apesar de todas as tentativas de a desacreditar, a ser uma luz que
ilumina, encoraja, alivia e testemunha o teu amor sem limites pela humanidade,
um modelo de altruísmo, uma arca de salvação e uma fonte de certeza e de
verdade;
A esperança, porque da tua cruz, fruto da avidez e da cobardia de
tantos doutores da lei e hipócritas, jorrou a ressurreição, transformando as
trevas do túmulo no fulgor da aurora do Domingo sem fim, ensinando-nos que o
teu amor é a nossa esperança; Senhor Jesus, dá-nos sempre a graça da santa
esperança!
Ajuda-nos, Filho do homem, a despojarmo-nos da arrogância do ladrão
posto à tua esquerda, dos míopes e dos corruptos, que viram em ti uma
oportunidade a explorar, um condenado a criticar, um derrotado para zombar,
mais uma ocasião para empurrar para os outros, até para Deus, as próprias
culpas.
Pedimos, pelo contrário, Filho de Deus, que personifiquemos o bom
ladrão que te viu com olhos cheios de vergonha, de arrependimento e de
esperança; que, com os olhos da fé, viu na tua aparente derrota a divina
vitória e, assim, se ajoelhou diante da tua misericórdia e, com honestidade,
roubou o paraíso. Amén.