Mc
9,30-37 O Evangelho deste XXV Domingo do Tempo Comum, apresenta-nos
uma história de confronto entre a “sabedoria de Deus” e a “sabedoria do mundo”.
Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projecto do Pai e a
fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica
do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com
esse projecto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã
para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos
irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres.
O Evangelho de hoje
convida-nos, então, a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na
sociedade, quer dentro da própria comunidade cristã. A instrução de Jesus aos
discípulos que esta passagem do Evangelho nos apresenta é uma denúncia dos jogos
de poder, das tentativas de domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza,
das manobras para conquistar honras e privilégios, da busca desenfreada de
títulos, da caça às posições de prestígio… Esses comportamentos são ainda mais
graves quando acontecem dentro da comunidade cristã: trata-se de comportamentos
incompatíveis com o seguimento de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não
podemos, de forma alguma, pactuar com a “sabedoria do mundo”; e uma Igreja que
se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de
Jesus.
Na
nossa sociedade, os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que
frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo
as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se
aos valores politicamente correctos. E na comunidade cristã? Quem são os
primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o
primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a
única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da
própria vida um serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem
grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções
baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade
cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista
do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar
com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
A
atitude de serviço que Jesus pede aos seus discípulos deve manifestar-se, de
forma especial, no acolhimento dos pobres, dos débeis, dos humildes, dos
marginalizados, dos sem direitos, daqueles que não nos trazem o reconhecimento
público, daqueles que não podem retribuir-nos… Seremos capazes de acolher e de
amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros,
os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém
ama?