segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

MENSAGEM DE NATAL DE D. JOSÉ ORNELAS - BISPO DE SETÚBAL


O quadro que nos habituámos a contemplar nos nossos presépios e que conhecemos pelas tradições bíblicas evoca a realidade de uma família simples, à volta de um bebé recém-nascido. O ambiente que se respira é de penúria e até de drama, pela situação desprotegida do casal, longe da sua terra e temendo perseguições, que hão de fazer deles refugiados e exilados. Mas revela igualmente uma imensa ternura, no carinho dos pais, na atenção dos visitantes, que chegam de perto e de longe, para felicitar o casal de estrangeiros, ver o menino e ajudar de algum modo a minorar as carências. No meio do ambiente agreste e preocupado, eles criam uma atmosfera improvisada de conforto acolhedor para esta vida que começa a abrir-se num vagido que pede atenção, ternura e proteção.
É assim a vida humana: no luxo das famílias abastadas ou na perigosa miséria dos campos de refugiados, nenhuma criança sobreviveria e cresceria como pessoa, sem o carinho e o cuidado daqueles que a cercam. O Natal aponta precisamente para a família como berço da vida, da ternura, do cuidado para com aqueles (todos!) que são fracos. Jesus não teria sobrevivido neste mundo sem o aconchego, o carinho, a diligente entrega de Maria e de José. Foi a eles, em primeiro lugar, que Deus confiou o cuidado do seu Filho, o Salvador do Mundo.
Mas o Natal revela também o outro lado da medalha: Na realidade, nesse menino frágil e dependente, revela-se a prodigiosa força de Deus que vem cuidar da radical fragilidade humana. Deus, o Senhor poderoso do universo, não tem medo de se aproximar, de partilhar a fragilidade humana, com os dramas da pobreza, da injustiça, do desamparo, da solidão e do desânimo. Aos braços ternos, mas igualmente débeis de Maria e José, Ele confia o dom precioso do seu Filho. A força, a grandeza e a nobreza não se revelam no dominar, humilhar e destruir, própria de predadores, mas no acarinhar, apoiar, levantar e construir que distingue os cuidadores. Assim começa a revelar-se o mundo novo!
Neste ano, experimentámos dramaticamente a fragilidade da natureza, da vida, da sociedade e da humanidade, na catástrofe dos incêndios, das guerras, atentados e tantas outras calamidades. Muitos se moveram também solidariamente, para estar próximos dos mais atingidos, para cuidar dos que não podem bastar a si próprios em tais situações. Muitos outros incêndios de ódios, destruição, injustiça e indiferença ficaram por atender.
Neste Natal, Deus confia-nos uns aos outros, para cuidarmos, nas nossas famílias, das nossas fragilidades e mágoas, dos nossos sonhos e esperanças. Na Família-Igreja, confia-nos a pequenez de um Reino que é sempre semente a desenvolver-se e fermento a levedar, apelando ao cuidado e ao amor de todos, iluminados e aquecidos pelo sol perene do Seu Espírito que nunca nos abandona. No país, na sociedade e no mundo, feridos por desastres naturais, guerras, fome e injustiças, o Pai de todos os humanos convida-nos a ser cuidadores da paz, feita de justiça, dignidade e solidariedade na diversidade, pois, aos seus olhos, nenhuma pessoa é estrangeira, mas irmão ou irmã. O Criador do Universo confia-nos este maravilhoso planeta, para admirarmos e usufruirmos, mas igualmente para respeitarmos e cuidarmos das suas fragilidades, de modo que continue a ser a terra-mãe para todos os seus habitantes, hoje e no futuro.

 18 de Dezembro de 2017
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal

domingo, 17 de dezembro de 2017

FESTA DE NATAL DA CATEQUESE E ESCUTEIROS


No sábado 16 de dezembro as crianças da catequese e dos escuteiros na Eucaristia encenaram os momentos do nascimento de Jesus, da adoração dos pastores e reis magos.


Que Neste Natal Jesus encontre lugar no coração de cada um e nos encha da sua alegria, da sua paz e do seu amor!
Antes do lanche colocaram no pinheiro as mensagens de Natal, feitas por cada um nos grupos de catequese.

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE A LITURGIA DO III DOMINGO DO ADVENTO (ANO B)


Jo 1,6-8.19-28 O Ângelus deste domingo foi muito especial por duas razões: por um lado, celebra-se o domingo chamado “Gaudete”, ou seja, “da alegria”, e por outro, o Papa Francisco completa 81 anos.
O Pontífice expôs as 3 atitudes “que nos preparam a viver o Natal de modo autêntico”: a alegria, a oração perseverante e a contínua ação de graças.
Sobre a primeira atitude, assegurou que se deve “permanecer sempre na alegria, mesmo quando as coisas não acontecem segundo os nossos desejos”.
“As angústias, as dificuldades e os sofrimentos atravessam a vida de cada um, e tantas vezes a realidade que nos circunda parece ser inóspita e árida”.
Fazendo referência às leituras do dia, Francisco afirmou que esta passagem bíblica esclarece que a missão de Jesus “no mundo consiste na libertação do pecado e da escravidão pessoais e sociais que este produz”. “Ele veio à terra para restituir aos homens a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, que somente Ele pode comunicar”.
Mas esta alegria na espera se baseia na “oração perseverante”: “por meio da oração, podemos entrar numa relação estável com Deus, que é a fonte da verdadeira alegria”.
“A alegria do cristão – continuou – vem da fé e do encontro com Jesus Cristo, razão da nossa felicidade. Quanto mais estivermos enraizados em Cristo, tanto mais encontraremos a serenidade interior, mesmo no meio das contradições cotidianas”.
Assim, o cristão que encontra Jesus “não pode ser um profeta do infortúnio, mas uma testemunha e um arauto da alegria”. “Uma alegria a ser compartilhada com os outros; uma alegria contagiosa que torna menos cansativo o caminho da vida”, assegurou.
Por último, “a contínua ação de graças” faz referência a “reconhecer sempre os seus benefícios, o seu amor misericordioso, a sua paciência e bondade, vivendo assim em contínua acção de graças”.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

MENSAGEM DE D. JOSÉ ORNELAS (BISPO DE SETÚBAL) PARA O ADVENTO 2017


Neste domingo, 3 de dezembro, iniciamos o novo ano litúrgico, assumindo a caminhada do Advento, que nos levará até ao Natal do Senhor. Este tempo sublinha a dimensão de caminho e de esperança que carateriza a fé cristã, promovendo uma atitude ativa de compromisso na transformação da própria vida e do mundo à nossa volta.
Essa atitude nasce de uma visão realista de fé, que nos torna conscientes do valor e das capacidades de nós próprios e da realidade que nos rodeia, mas igualmente dos seus limites: os erros, o sofrimento, a pobreza, a injustiça, a guerra, a desumanização. Quem crê descobre, em si próprio e à sua volta, a ação do Espírito de Deus que aponta e conduz à transformação positiva da vida: o mundo não é perfeito, mas pode ser melhor e nós somos desafiados a  ser parte dessa transformação.
A atitude de Maria e a palavra dos profetas que acompanharão este nosso caminho convidam-nos a olhar com realismo e esperança para nós próprios, para a nossa família, a nossa Igreja e o mundo em que vivemos. Porque Deus vem para o meio de nós e nos acompanha com o seu Espírito, é possível caminhar, mudar, melhorar. É tempo de abrir o nosso coração a Deus que abre os olhos do nosso coração para além daquilo que vemos, sabemos e podemos. É tempo de ter esperança! É tempo de ser esperança!
Mas o advento não é apenas contemplação e sonho idílico de futuro. É um tempo de caminho concreto, é esperança ativa que torna possível a mudança. Motivados pela fé, transformados pelo Espírito de Deus, pomo-nos a caminho, para transformar-nos e para transformar; converter-nos e converter. Não nos resignamos nem nos deixamos intimidar pelas maiores dificuldades, pelo sofrimento ou pelos nossos limites e pecados. A esperança faz-nos avaliar, corrigir e avançar, para construir um mundo melhor, para levar luz onde há trevas, reconciliação onde há conflitos, pão onde há fome, justiça onde há opressão, fé onde há, apenas, materialismo e solidão.
Guia-nos neste caminho de conversão, João Batista, o profeta do advento. É tempo de sair de si próprio, de abrir os olhos aos que nos cercam, de estender a mão a quem está caído, para construir um mundo mais justo, mais solidário e mais humano.
De entre os muitos sinais de esperança, de caminho, de fé e de compromisso que se verificam nas nossas famílias, paróquias e na Diocese, quero realçar os passos concretos que estão a dar, nestes dias, três jovens seminaristas que se preparam para estar ao serviço da Igreja no ministério sacerdotal. No dia 3 de dezembro, na igreja da Torre da Marinha, dois membros da Comunidade da Aliança da Misericórdia – o Danilo Rasera Adorno e o Gilson Zen Parede Garcia – serão instituídos Leitores. No dia 8 de dezembro, na Sé de Setúbal, será ordenado Diácono da nossa Diocese o João Paulo Gomes Duarte. Damos graças a Deus e acompanhamos com amizade e a oração estes três irmãos, a fim de que sejam sinais autênticos de fidelidade ao Senhor que os chamou e de serviço dedicado e carinhoso aos irmãos.
Vivamos este tempo de advento guiados por Maria:
  • na leitura atenta da Palavra de Deus;
  • na oração pessoal, em família e na comunidade cristã;
  • na abertura do coração aos que mais precisam de atenção, de ajuda, de esperança.
Setúbal, 1 de dezembro de 2017
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal

domingo, 10 de dezembro de 2017

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO II DOMINGO DO ADVENTO (ANO B)


Mc 1,1-8 O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, neste  II Domingo de Advento (10/12), com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro. 
Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice recordou que no domingo passado, “iniciámos o Advento com o convite a vigiar”, e “neste segundo domingo deste tempo de preparação para o Natal, a liturgia fala-nos de um tempo para reconhecer os vazios a serem preenchidos na nossa vida, para aplanar as asperezas do orgulho e criar espaço para Jesus que vem”. 
“O Profeta Isaías dirige-se ao povo anunciando o fim do Exílio na Babilônia e o retorno a Jerusalém. Ele profetiza: «Grita uma voz: Preparai no deserto o caminho do Senhor […]. Nivelem-se todos os vales». Os vales a serem nivelados representam todos os vazios do nosso comportamento diante de Deus, todos os nossos pecados de omissão.” 
“O vazio na nossa vida pode ser porque não rezamos ou rezamos pouco. O Advento é o momento favorável para rezar com mais intensidade, para reservar à vida espiritual o lugar importante que lhe cabe. Outro vazio pode ser a falta de caridade para com o próximo, sobretudo em relação às pessoas que precisam de ajuda não só material, mas também espiritual. Somos chamados a prestar mais atenção às necessidades dos outros, a estar mais próximos. Desta forma, como João Batista, poderemos abrir caminhos de esperança no deserto dos corações áridos de muitas pessoas.” “Rebaixem-se todos os montes e colinas”, exorta ainda Isaías. “Os montes e as colinas que devem ser rebaixados são o orgulho, a soberba e a prepotência. Onde existe orgulho, prepotência e soberba o Senhor não pode entrar. Devemos assumir comportamentos de mansidão e humildade, sem repreender, ouvindo e falando com mansidão e assim preparar a vinda de nosso Salvador, que é manso e humilde de coração. Depois, somos convidados a eliminar todos os obstáculos que colocamos na nossa união com o Senhor: “O terreno acidentado se torne plano e alisem-se as asperezas. A glória do Senhor manifestar-se-á, então, e todos os homens a verão”, diz Isaías. 
O Santo Padre acrescentou que “quando esperamos em casa a visita de uma pessoa querida, organizamos tudo com carinho e felicidade. Devemos fazer o mesmo para a vinda do Senhor: esperá-lo a cada dia com solicitude, para podermos ser preenchidos com a sua graça quando Ele vier”. Francisco sublinhou que no Evangelho, João Batista representa a figura da “voz que grita no deserto”, anunciada pelo Profeta Isaías.
“O Salvador que esperamos é capaz de transformar a nossa vida com a sua graça, com a força do Espírito Santo, com a força do amor. O Espírito Santo derrama em nossos corações o amor de Deus, fonte inexaurível de purificação, de vida nova e liberdade. A Virgem Maria viveu plenamente esta realidade, deixando-se “batizar” pelo Espírito Santo que a encheu da sua força. Ela, que preparou a vinda de Cristo com a totalidade de sua existência, nos ajude a seguir o seu exemplo e guie os nossos passos para o encontro com o Senhor que vem.”

domingo, 3 de dezembro de 2017

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO I DOMINGO DO ADVENTO (ANO B)


Mc 13,33-37 Na reflexão do Angelus deste I Domingo do Advento, logo após o regresso da sua Viagem Apostólica a Mianmar e ao Bangladesh, o Papa Francisco refletiu sobre as características de uma pessoa atenta, em resposta à exortação contida no Evangelho de Marcos, proposto pelo Evangelho do dia.
“O Advento – explicou o Papa - é o tempo que nos é dado para acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, para verificar o nosso desejo de Deus, para podermos olhar em frente e preparar-nos para o regresso de Cristo”, que vem a nós de diversas maneiras, como na festa de Natal que recorda a sua vinda histórica - e sempre que estivermos “dispostos a recebê-lo” - e virá de novo no final dos tempos para “julgar os vivos e os mortos”.
“Por isto devemos estar sempre vigilantes e esperar o Senhor com a esperança de encontrá-lo”, frisou. Francisco referiu, então, algumas características de uma pessoa atenta. A primeira delas, é que mesmo no meio do “barulho do mundo”, não se deixa tomar pela “distração ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação voltada antes de tudo para os outros”. “Com este comportamento percebemos as lágrimas e as necessidades do próximo e podemos perceber neles as capacidades e as qualidades humanas e espirituais”. Mas a pessoa atenta, também se preocupa com o mundo,  “buscando combater a indiferença e a crueldade presente nele”: “Trata-se de ter um olhar de compreensão tanto para reconhecer as misérias e as pobrezas dos indivíduos e das sociedades, como para reconhecer a riqueza escondida nas pequenas coisas de cada dia, precisamente ali onde nos colocou o Senhor”. Finalmente a pessoa vigilante, também acolhe o convite para vigiar, ou seja, “não se deixa dominar pelo sono do desencorajamento, da falta de esperança, da desilusão”: “Ao mesmo tempo, rejeita a solicitação de tantas vaidades de que o mundo está cheio e por detrás das quais, às vezes, são sacrificados tempo e serenidade pessoal e familiar”.
O Papa recordou a “dolorosa experiência do povo de Israel” quando se afastou do caminho do Senhor - narrada pelo Profeta Isaías: “Também nós nos encontramos muitas vezes nesta situação de infidelidade ao chamamento do Senhor: Ele nos indica o bom caminho, o caminho da fé,  o caminho do amor, mas nós buscamos a nossa felicidade noutro lugar”.
Por fim, Francisco sublinha os pressupostos para não andarmos por aí “afastados dos caminhos do Senhor”: “Estar atentos e vigilantes são os pressupostos para não continuarmos a “andar por aí afastados dos caminhos do Senhor”, perdidos  nos nossos pecados e nas nossas infidelidades; estar atentos e vigilantes são as condições para permitir a Deus irromper na nossa existência, para a encher de significado e valor com a sua presença repleta de bondade e de ternura”.
Ao  concluir, o Pontífice pediu que “Maria Santíssima, modelo na espera do Senhor e ícone da vigilância, nos guie ao encontro de seu filho Jesus, vivificando o nosso amor por Ele”.