domingo, 30 de setembro de 2018

REFEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)


Mc 9,38-43.45-47-48 Na alocução que precedeu hoje a oração do Angelus, o Pontífice ressaltou que “o Evangelho deste domingo nos apresenta um daqueles particulares muito instrutivos da vida de Jesus com os seus discípulos”.
“Eles tinham visto que um homem, que não fazia parte do grupo dos seguidores de Jesus, expulsava demônios em nome de Jesus, e por isso queriam proibi-lo. João, com o entusiasmo zeloso típico dos jovens, refere o fato ao Mestre buscando o seu apoio; mas, Jesus, ao contrário, responde: «Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor».”
Segundo o Papa, “João e os outros discípulos manifestam um comportamento de fechamento diante de um acontecimento que não entra nos seus esquemas, neste caso ação, mesmo sendo boa, de uma pessoa ‘externa’ ao grupo de seguidores”.
“Em vez disso, Jesus parece muito livre, plenamente aberto à liberdade do Espírito de Deus, que não é limitado em sua ação por nenhum confim e por nenhum recinto. Jesus quer educar os seus discípulos, e também a nós hoje, a esta liberdade interior. ”
Francisco disse que “nos faz bem refletir sobre este episódio e fazer um pouco de exame de consciência”.
 “O comportamento dos discípulos de Jesus é muito humano, muito comum, e podemos encontrá-lo nas comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente também em nós mesmos.”
Segundo o Papa, “existe o medo da ‘concorrência’ de que alguém possa atrair novos seguidores, e então não se consegue apreciar o bem que os outros fazem: não é bom porque ele “não é um dos nossos”. É uma forma de auto-referencialidade. De fato, aqui está a raiz do proselitismo. E a Igreja, disse o Papa Bento XVI, não cresce pelo proselitismo, cresce pela atração, isto é, cresce pelo testemunho dado aos outros com a força do Espírito Santo”.
 “A grande liberdade de Deus em doar-se a nós é um desafio e uma exortação a mudar os nossos comportamentos e as nossas relações. É um convite que Jesus nos faz hoje."
“Ele convida-nos a não pensar segundo as categorias do “amigo/inimigo”, “nós/eles”, “quem está dentro/quem está fora”, "meu/seu", mas a ir mais além, a abrir o coração a fim de reconhecer a sua presença e a ação de Deus mesmo em âmbitos incomuns e imprevisíveis e em pessoas que não fazem parte de nosso círculo. ”
“Trata-se de estarmos mais atentos à genuinidade do bem, do bonito e do verdadeiro que é realizado, do que ao nome e procedência de quem o faz. E - como nos sugere o restante do Evangelho de hoje -  em vez de julgar os outros, devemos examinarmo-nos a nós mesmos e “cortar” sem pactos tudo o que pode escandalizar as pessoas mais fracas na fé”, disse ainda o Papa.
Francisco concluiu, pedindo à Virgem Maria, “modelo de acolhimento dócil das surpresas de Deus, para que nos ajude a reconhecer os sinais da presença do Senhor no meio de nós, descobrindo-o em todo lugar que Ele se manifestar, até mesmo nas situações mais impensáveis e incomuns. Que ela nos ajude a amar a nossa comunidade sem ciúmes e fechamentos, sempre abertos ao horizonte vasto da ação do Espírito Santo”.

sábado, 29 de setembro de 2018

FALECEU O P. JOSÉ VICENTE MARTINS S.J

Depois de uma longa vida ao serviço de Deus e da sua Igreja faleceu, na passada 5ª feira, 27 de setembro, na Enfermaria do Colégio de S. João de Brito, o Padre José Vicente Martins, sacerdote jesuíta, com 97 anos de idade e 80 de Companhia de Jesus. 
O Padre Vicente nasceu na freguesia de Cabril, concelho de Pampilhosa da Serra, Coimbra, em 1921. Em 1938, entrou no Noviciado da Companhia de Jesus. Fez os primeiros votos em 1940. Fez estudos de Humanidades, Ciências e Filosofia. Foi professor no colégio das Caldinhas, Santo Tirso. Partiu em missão para a Zambézia, Boroma. Em 1949, Voltou à Europa e estudou Teologia em Granada e, depois, em Oxford, na Faculdade de Teologia de Chiping Norton (1952 – 1954). Foi ordenado Sacerdote , em Oxford. Em 1955 regressou à Missão em Moçambique, novamente para Boroma, tendo sido nomeado Superior em 15 de Setembro de 1956. Em 1961 deixou Boroma e foi para Salisbury (Rodézia, hoje Zimbábue) para dar assistência religiosa.
Em 1962 regressou definitivamente a Portugal. Foi Coadjutor na Paróquia de S. Francisco de Paula, em Lisboa, e nomeado seu Pároco em 1963. Em 1969, continuando ainda no Patriarcado de Lisboa, foi nomeado Pároco de Alpiarça e Vale de Cavalos. Em 1974 foi nomeado Pároco da Paróquia de S. João Evangelista, em Lisboa, onde transformou um velho cinema em igreja.
Em 22 de Novembro de 1992 foi nomeado Pároco da Paróquia de Cristo Rei, Pragal, na Diocese de Setúbal onde permaneceu até 13 de Outubro de 2009. Transformou velhas instalações de uma quinta na igreja de São Francisco de Borja, sede da quasi paróquia de S. Francisco Xavier de Caparica, atualmente a cargo da Companhia de Jesus. Promoveu obras de restauro e ampliação da igreja paroquial do Pragal.
Em 2002 foi submetido a uma cirurgia delicada ao coração que, felizmente, correu bem. Em 2009, por motivos de saúde, deixou de ser Pároco e mudou-se para o Centro Inaciano do Lumiar (CIL). Voltou a viver na nossa Diocese, na paróquia de Miratejo, onde prestou, sempre que a frágil saúde lho permitia, colaboração pastoral.
Entregou-se, portanto, com determinação, até ao fim da sua vida, às coisas pequenas e às obras mais significativas servindo a Jesus Cristo neste mundo, na Companhia de Jesus, continuando certamente também agora a servi-lo na sua companhia no Céu.
"O Senhor disse-lhe:' Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu Senhor.' (Mt. 25, 21) 
Paz à sua alma.


quinta-feira, 27 de setembro de 2018

AUTOBIOGRAFIA DO PADRE VICENTE MARTINS, SJ


É o testemunho de vida do Padre Vicente que foi Pároco da Paróquia de Cristo Rei de 10 de janeiro de 1993 até 13 de outubro de 2009 e Presidente do Centro Social Paroquial de Cristo Rei e muito fez por todos.
Preparou a criação da nova Paróquia de S. FRANCISCO XAVIER DE CAPARICA que teve início a 15 de outubro de 2006.
Vale a pena ler e louvar a Deus por tanto bem!

domingo, 23 de setembro de 2018

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)


Mc 9,30-37 Na sua homilia, hoje em Kaunas (na Lituânia) o Papa Francisco partiu do Evangelho do dia, onde São Marcos dedica grande parte ao ensinamento de Jesus aos discípulos. É como se, a meio do caminho para Jerusalém, Jesus quisesse que os seus discípulos renovassem a sua opção, sabendo que este seguimento comportaria momentos de provação e sofrimento. 
O evangelista lembra que Jesus anunciou a sua Paixão em três ocasiões aos discípulos, que por três vezes expressaram sua perplexidade e resistência a esta notícia. No entanto, o Senhor sempre lhes deixou seu ensinamento, explicou o Papa:
A vida cristã passa sempre por momentos de cruz, que, às vezes, parecem intermináveis. As gerações passadas sentiram a dureza do tempo da ocupação, a angústia dos que eram deportados, a incerteza da sua volta, a vergonha da delação, da traição”.
Quantas vezes, - disse Francisco - o justo é perseguido, sofre insultos e tormentos pelo fato de ser bom!
Mas, voltando ao Evangelho de hoje, Papa disse que “os discípulos não queriam que Jesus falasse sobre sofrimento e cruz”; não queriam saber de provações e angústias, porque, segundo São Marcos, o interesse deles era outro: ao voltar para casa, discutiam sobre quem, entre eles, seria o maior. E Francisco ponderou:
Irmãos, o desejo de poder e de glória é o modo mais comum de se comportarem aqueles que não conseguem sanar a memória da sua história e, talvez, nem aceitam  compromissos com o momento presente. Discutem sobre quem mais se destacou e foi mais puro no passado, quem possui mais direitos e tem mais privilégios. Assim, negamos a nossa história gloriosa por ser feita de sacrifícios, esperança, luta, serviço e fadiga”.
Trata-se – continuou o Papa - de uma atitude estéril e inútil, que recusa a construção do presente e da dolorosa realidade do povo fiel. Sabendo o que os discípulos pensavam, - destacou o Santo Padre – o Mestre propôs-lhes um antídoto para estas lutas de poder e recusa do sacrifício: sentou-se com eles e colocou uma criança no meio deles; hoje, esta criança poderia ser um pequenino qualquer, um pobre, a minoria étnica, o desempregado, o migrante; talvez um idoso ou um jovem, que perderam o sentido da sua existência. E Francisco refletiu:
Trata-se disso: de uma Igreja ‘em saída’; não devemos ter medo de sair e entregarmo-nos; não devemos ter medo de estar atrás dos pequeninos, dos esquecidos, dos que vivem nas periferias existenciais. Porém, devemos saber que este ‘sair’ implica, às vezes, deter o passo e renunciar aos anseios, sabendo olhar, escutar e acompanhar o excluído da sociedade”.
Eis o motivo pelo qual estamos aqui, hoje, - disse Francisco - ansiosos de receber Jesus e a sua palavra, através da Eucaristia e dos pequeninos. Por isso, o Papa fez os votos para que “o Senhor possa reconciliar a nossa memória, acompanhar-nos no presente, apesar dos desafios e das chagas do passado...; 
Sigamos o Mestre como verdadeiros discípulos, compartilhando das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e atribulados”.

domingo, 16 de setembro de 2018

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)


Mc 8,27-35 Diante de uma multidão na Praça S. Pedro, o Pontífice inspirou a sua reflexão no trecho evangélico de São Marcos, em que Jesus pergunta aos discípulos sobre sua identidade.
Antes de interpelar diretamente os Doze, explicou o Papa, Jesus quer ouvir deles o que as pessoas pensam Dele. Por isso pergunta: “Quem dizem os homens que eu sou?”. Emerge que Jesus é considerado pelo povo um grande profeta. Mas, na realidade, Ele não se interessa pela falação das pessoas.
Ele não aceita nem mesmo que os seus discípulos respondam às suas perguntas com fórmulas pré-concebidas, “porque uma fé que se reduz a fórmulas é uma fé míope”.
“O Senhor quer que os seus discípulos de ontem e de hoje instaurem com Ele uma relação pessoal”, afirmou Francisco, que acrescentou:
“Hoje, Jesus dirige esta pergunta tão direta e confidencial a cada um de nós: ‘Quem sou eu para vós?’. Cada um de nós é chamado a responder, no próprio coração, deixando-se iluminar pela luz que o Pai nos dá para conhecer o seu Filho Jesus.”
Porém, prosseguiu, Jesus adverte que a sua missão se realiza não na estrada ampla do sucesso, mas no caminho árduo do Servo sofredor. Por isso, pode acontecer de protestar e nos rebelar, porque isso contrasta com as nossas expectativas mundanas.
A profissão de fé em Jesus Cristo não pode parar nas palavras, mas pede que seja autenticada por escolhas e gestos concretos.
“ Jesus diz-nos que para segui-Lo, para sermos seus discípulos, é preciso renunciar a si mesmo, isto é, às pretensões do próprio orgulho egoístico e tomar a própria cruz. ”
Com frequência na vida, por tantos motivos, erramos o caminho, buscando a felicidade nas coisas ou nas pessoas que tratamos como coisas. Mas a felicidade a encontramos somente quando o amor, o verdadeiro amor, nos encontra, nos surpreende, nos transforma. "O amor muda tudo e pode mudar-nos  inclusive a nós!", disse Francisco.
O Papa então concluiu:
“Que a Virgem Maria, que viveu a sua fé seguindo fielmente o seu Filho Jesus, nos ajude também a nós a caminhar na sua estrada, vivendo generosamente a nossa vida por Ele e pelos irmãos.”

TOMADA DE POSSE DO P. JOÃO DE BRITO SJ COMO QUASI-PÁROCO DA QUASI-PARÓQUIA DE S. FRANCISCO XAVIER DE CAPARICA (FOTOS)

Tomou posse, ontem, como Quasi-Pároco da Quasi-Paróquia de S. Francisco Xavier de Caparica o Pe. João Daniel Figueiredo de Brito da Companhia de Jesus. A cerimónia contou, não só com a presença do Sr. Bispo de Setúbal - que presidiu à Missa da tomada de posse - mas também com a presença do Provincial da Companhia de Jesus e de outros Sacerdotes da Companhia e da Diocese. O Pe. João de Brito SJ  sucede assim ao Pe. Hermínio Vitorino SJ, que esteve à frente desta Paróquia 4 anos. Foram muitos os paroquianos que participaram nesta Missa de tomada de posse e que agradeceram este dom de Deus que receberam rezando para que Deus proteja, guarde e santifique sempre, na verdade, este seu novo pastor. Para o Pe. Hermínio João Neves Vitorino SJ, que interrompe o seu ministério pastoral na Paróquia e na Diocese, para um ano sabático, agradecemos o serviço prestado e pedimos a bênção do Senhor para os caminhos e missões a que vier a ser chamado.











P. JOÃO DE BRITO S.J. É, DESDE ONTEM, O NOVO QUASI-PÁROCO DA QUASI-PARÓQUIA DE S. FRANCISCO XAVIER DE CAPARICA

Tomou ontem posse, como Quasi-Pároco da Paróquia de S. Francisco Xavier de Caparica o P. João de Brito S.J. João de Brito nasceu em Lisboa em 1985 e entrou na Companhia de Jesus em 2006. Padre jesuíta desde Julho de 2017, conclui actualmente os estudos na especialidade de Teologia Espiritual no Centre Sèvres – Faculdades Jesuítas de Paris, depois da formação teológica inicial na Universidade Pontifícia Comillas, em Madrid. Fez os seus estudos de Filosofia em Braga, na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

TOMADA DE POSSE DO NOVO PÁROCO



A TOMADA DE POSSE DO NOVO PÁROCO É NO SÁBADO DIA 15 DE SETEMBRO NA EUCARISTIA ÀS 18H PRESIDIDA PELO SENHOR BISPO.
A seguir todos são convidados para o jantar partilhado no pátio da Igreja, com o que cada um levar.

O Senhor Bispo D. José Ornelas Carvalho, nomeou o Pe. João Daniel Figueiredo Brito (SJ): para Quasi-Pároco de São Francisco Xavier de Caparica, em substituição do Pe. Hermínio João Neves Vitorino (SJ),
Disse a quando da nomeação em 16 de julho:
"Estou muito grato à Companhia de Jesus e, especificamente, ao Pe. Hermínio João Neves Vitorino (SJ),que interrompe o ministério pastoral na Diocese, para um ano sabático, pedindo a bênção do Senhor para os caminhos e missões a que vier a ser chamado.
Aos Padres que terminam funções, vai a gratidão do Bispo e de toda a Diocese, pedindo ao Bom Pastor que os recompense pelo trabalho generoso e dedicado que realizaram nas suas paróquias.
Aos Padres que vão iniciar novo serviço pastoral asseguro a minha oração e assistência no desempenho da missão agora confiada, na certeza de que continuarão a servir, com renovado entusiasmo, a nossa Igreja diocesana.
Às comunidades envolvidas no processo de mudanças, peço que participem dos mesmos sentimentos de gratidão para com os sacerdotes que estiveram ao seu serviço até este momento, e que acolham com fé e carinho os que chegam para continuar esta missão. 
Para os novos Párocos e Vigários Paroquiais invoco a bênção do Bom Pastor, bem como para as Paróquias às quais eles são enviados, para que, com o impulso do Espírito Santo, possamos edificar a Igreja do Senhor em cada uma das nossas comunidades e anunciar o Evangelho àqueles que ainda o não conhecem, dando especial atenção aos jovens, aos quais serão especialmente dedicados os próximos dois anos."

domingo, 9 de setembro de 2018

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)


Mc 7,31-37 Referindo-se à liturgia deste domingo, Francisco ressaltou que o Evangelho do dia nos apresenta o episódio da cura milagrosa de um surdo-mudo, feita por Jesus. “Levaram-lhe um surdo-mudo, pedindo que lhe impusesse as mãos. Ele, ao invés, realizou vários gestos: em primeiro lugar levou-o para longe da multidão. Nesta ocasião, como em outras, Jesus age com discrição. Não quer impressionar o povo, Ele não está à procura da popularidade ou do sucesso, deseja apenas fazer o bem às pessoas. Com esta atitude, Ele ensina-nos que o bem deve ser feito sem clamores, sem ostentação, sem tocar a trombeta. Deve ser feito em silêncio”, observou.
Descrevendo o episódio narrado pelo evangelista São Marcos, Francisco ressaltou que “estando afastado da multidão, Jesus colocou os dedos nas orelhas do surdo-mudo e com a saliva lhe tocou a língua. Este gesto remete à Encarnação”, acrescentou o Santo Padre. O Filho de Deus, continuou o Papa, “é um homem inserido na realidade humana. Fez-se homem, portanto, pode compreender a condição penosa de outro homem e intervém com um gesto no qual é envolvida toda sua humanidade”. “Ao mesmo tempo, Jesus quer dar a entender que o milagre se dá devido a sua união com o Pai: por isso, levantou os olhos para o céu. Depois gemeu e pronunciou a palavra resolutiva ‘Effatha’, que significa ‘Abri-te’. E imediatamente o homem ficou curado: abriram-se-lhe os ouvidos e a língua se lhe desprendeu. A cura foi para ele uma ‘abertura’ aos outros e ao mundo”.
Esta narração do Evangelho ressalta a exigência de uma dúplice cura, continuou o Pontífice. “Em primeiro lugar, a cura da doença e do sofrimento físico, para restituir a saúde do corpo; embora esta finalidade não seja completamente alcançável no horizonte terreno, apesar dos muitos esforços da ciência e da medicina”, sublinhou. Mas há uma segunda cura, talvez mais difícil, frisou o Papa, é a cura do medo, ou seja, do nosso medo. A cura do medo que nos leva a marginalizar o doente, a marginalizar o que sofre, o portador de deficiência. “E existem muitos modos de marginalizar, de permanecermos surdos e mudos diante das dores das pessoas marcadas por doenças, angústias e dificuldades. Muitas vezes o doente, aquele que sofre, torna-se um problema, em vez de ser ocasião para manifestar a solicitude e a solidariedade de uma sociedade para com os mais frágeis.”
O Pontífice acrescentou que Jesus revelou-nos o segredo de um milagre que podemos repetir também nós, “tornando-nos protagonistas do ‘Effatha’, daquela palavra ‘Abre-te’ com a qual Ele restituiu a palavra e a audição ao surdo-mudo”. “Trata-se de nos abrirmos às necessidades dos nossos irmãos que sofrem e precisam de ajuda, rejeitando o egoísmo e o fechamento do coração. E foi precisamente o coração, ou seja, o núcleo profundo da pessoa, que Jesus veio ‘abrir’, libertar, para tornar-nos capazes de viver plenamente a relação com Deus e com os outros.” Jesus fez-se homem para que o homem, “tendo-se tornado pelo pecado surdo e mudo, possa ouvir a voz de Deus, a voz do amor que fala ao seu coração, e assim aprenda a falar, por sua vez, a linguagem do amor, traduzindo-o em gestos de generosidade e de doação de si”.

domingo, 2 de setembro de 2018

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)


Mc 7,1-8.14-15.21-23 Dirigindo-se aos milhares de peregrinos e turistas presentes na Praça São Pedro, o Pontífice disse que este tema tratado no Evangelho de Marcos na liturgia deste domingo, é “importante para todos nós crentes: a autenticidade da nossa obediência à Palavra de Deus, contra toda a contaminação mundana ou formalismo legalista”.
“Na realidade – afirmou Francisco -  um homem ou uma mulher, que vive na vaidade, na avareza, na soberba e ao mesmo tempo acredita, mostra-se religioso, mas chega a condenar os outros, é um hipócrita”. E as palavras de Jesus para este “adjetivo”, são “claras e fortes!” “Hipócrita é, por assim dizer – explicou - um dos adjetivos mais fortes que Jesus usa no Evangelho e usa-o dirigindo-se aos mestres da religião: doutores da lei, escribas... “Hipócrita!”, diz Jesus”. “De fato, Jesus quer mostrar aos escribas e aos fariseus o erro em que eles caíram, e qual é esse erro? O de desvirtuar a vontade de Deus negligenciando os seus mandamentos para observar as tradições humanas”.
“A reação de Jesus é severa porque é grande o que está em jogo: trata-se da verdade da relação entre o homem e Deus, da autenticidade da vida religiosa. O hipócrita é um mentiroso, não é autêntico.”
O Papa recorda que o convite do Senhor para fugirmos “do perigo de dar mais importância à forma que à substância”, é dirigido também a nós, hoje: “Ele chama-nos a reconhecer, sempre de novo, aquele que é o verdadeiro centro da experiência de fé, isto é, o amor de Deus e o amor ao próximo, purificando-a da hipocrisia do legalismo e do ritualismo”.
Também S. Tiago, na segunda leitura,  “nos diz em síntese”, que a verdadeira religião é “visitar os órfãos e as viúvas no sofrimento e não se deixar contaminar por este mundo":
“Visitar órfãos e viúvas' significa praticar a caridade com o próximo, começando pelos mais necessitados, os mais frágeis, os mais marginalizados. São as pessoas de quem Deus cuida de forma especial e pede a nós para fazer o mesmo”.
“Não se deixar contaminar por este mundo" não significa isolar-se e fechar-se à realidade. Não! ”
“Também aqui não deve ser uma atitude exterior, mas interior, de substância”, que “significa vigiar para que o nosso modo de pensar e agir não seja poluído pela mentalidade mundana, isto é, pela vaidade, avareza, soberba”.
O Papa convida-nos então a fazermos um exame de consciência para ver como acolhemos a Palavra de Deus, pois “se a escutarmos de maneira distraída ou superficial, ela não nos servirá de muito”. “Em vez disso, devemos acolher a Palavra com mente e coração abertos, como um terreno bom, para que seja assimilada e produza frutos na vida concreta. Jesus diz que a Palavra de Deus é como o trigo, é uma semente que deve crescer nas obras concretas. Assim a própria Palavra nos purifica o coração e as ações e a nossa relação com Deus e com os outros é libertada da hipocrisia”.
Que o exemplo e a intercessão da Virgem Maria - disse o Papa ao concluir - nos ajudem a honrar sempre o Senhor com o coração, testemunhando o nosso amor por ele nas escolhas concretas para o bem dos irmãos.

sábado, 1 de setembro de 2018

TESTEMUNHO PADRE ABEL BANDEIRA PEREGRINO DE LOIOLA A MANRESA




P. Abel Bandeira sj


Nasceu em 1963 em Oliveira de Azeméis. Entrou para a Companhia de Jesus em 1986. Fez os seus estudos de Filosofia e Teologia em Braga, Roma, e Berkley (Estados Unidos). Foi ordenado sacerdote em 1998. A sua primeira missão na Província Portuguesa da Companhia de Jesus (1999/ 2004) foi a abertura da casa São Pedro Claver no Pragal. Nos últimos seis anos esteve em missão em Moçambique, onde foi pároco e mestre de noviços.

VER:  https://pontosj.pt/
Ilustração de Mário Linhares


·         NOS PASSOS DE INÁCIO - I Fazer-se peregrino

24 Julho 2018
O P. Abel Bandeira sj peregrinou 26 dias, de Loiola até Manresa, pelos passos de S. Inácio. Na semana anterior à festa do fundador da Companhia (dia 31), um episódio diário desta história vivida a quatro pés e contada a quatro mãos.
Abel caminhou de Loiola até Manresa. No dia 3 de maio, pegou na mochila, com meia dúzia de coisas essenciais, e fez-se à estrada pelo país basco. Fez-se peregrino. Em estado de pobreza total, sem comida nem dinheiro, nem “lugar onde reclinar a cabeça”, como diz Jesus no Evangelho. Apenas confiado na Providência. A mesma que o fez entrar na Companhia de Jesus em 1986 e que o conduziu à ordenação sacerdotal em 1998. Vinte anos depois de ser ordenado sacerdote, o P. Abel Bandeira sj quis percorrer o mesmo caminho feito por Santo Inácio de Loiola, fundador dos jesuítas, no século XVI. Uma oportunidade que não teve no tempo do noviciado, onde os noviços fazem uma peregrinação de 15 dias – a chamada prova da peregrinação -, mas cuja ideia nunca lhe saiu da cabeça.
O sonho desta peregrinação foi sendo adiado ao longo dos anos. O regresso a Portugal, depois de seis anos de missão em Moçambique, onde foi pároco e mestre de noviços, e um período sabático deram o mote para recuperar este desejo e levá-lo à prática. Já com 55 anos, Abel conservava o fascínio pelas caminhadas pela Europa e pela Terra Santa feitas por Inácio de Loiola. Aquele que se chamava a si próprio “peregrino” percorreu milhares e milhares de quilómetros a pé para conhecer e dar a conhecer Deus, o que lhe valeu o apelido de “louco de amor por Jesus Cristo”.


Mas há um caminho que se destacou entre todos os outros – o que liga Loiola e Mansera -, pois, mais do que um percurso exterior, marcou um intenso e profundo caminho interior. Depois de ter sido gravemente ferido numa batalha e no rescaldo de um longo período de convalescença, o guerreiro Inácio deixou a vida militar e saiu da sua cidade natal de Loiola em direção à Terra Santa. Convertido e confiado a Deus, quis conhecer os lugares sagrados e ver, com os seus próprios olhos, onde Jesus nascera, vivera, pregara e morrera. Em Monserrate, já na Catalunha, Inácio entregou a sua espada, e mais à frente, em Manresa receberia aquela que ficaria conhecida como a “visão do Cardoner”. Uma experiência mística que mudaria para sempre a sua visão das coisas e do modo como Deus está presente no mundo e que conduziria, anos mais tarde, à fundação da Companhia de Jesus. Aí terá começado também a escrever os Exercícios Espirituais, modelo de oração que incutiu nos jesuítas e tem marcado milhares de pessoas ao longo dos séculos.
Mais de 600 quilómetros separam estas duas cidades de Espanha, e Abel quis percorrê-los como o fundador dos jesuítas o fez. Da forma mais parecida possível: quis ver o que Inácio viu, sentir o que Inácio sentiu, caminhar pelos seus passos. Deixando-se apanhar pela surpresa de Deus e dos outros. E de Deus nos outros.
A história que agora se apresenta parte daí, deste percurso de 26 dias, marcado pela oração, a entrega, o acolhimento das graças e provações que Deus lhe ia enviando, mas também o sofrimento e o cansaço. Ao longo de oito dias, a começar hoje e a terminar no dia de Santo Inácio, na próxima terça-feira, 31, relataremos sete histórias que marcaram profundamente o P. Abel Bandeira nesta sua peregrinação. Episódios e pensamentos que brotaram da sua experiência pessoal e que, “por tanto bem recebido”, ficam agora ao dispor de todos.
“Nos passos de Inácio” não será, contudo, o relato de uma caminhada física nem tão pouco de um percurso interior, pois sabe Deus se este percurso espiritual não começou bem antes de Loiola, e não continuou para além de Manresa. Além disso, quem escreve um conto, acrescenta um ponto, e esta não será uma história narrada na primeira pessoa. Apesar de ter sido partilhada de viva voz pelo seu protagonista, o P. Abel Bandeira sj, foi escrita por uma segunda pessoa, a Rita Carvalho, que, por sua vez, a recontou a uma terceira, ao Mário Linhares, que desenhou as ilustrações.
Será, assim, uma história percorrida e vivida a quatro pés (Inácio e Abel), narrada a quatro mãos (Rita e Mário). Para ser meditada e inspiradora para muitos mais.

Aprender a perd
·         NOS PASSOS DE INÁCIO -II Aprender a perder
25 Julho 2018
O primeiro ensinamento desta caminhada feita pelo P. Abel Bandeira sj, de Loiola a Manresa, seguindo os passos de S. Inácio de Loiola, aconteceu logo ao segundo dia. Deus disse-me: "perdeste tudo mas eu vou dar-te alguma coisa". Assim foi.
Abel comprou umas sapatilhas na Decathlon antes de se fazer ao caminho. E estas rapidamente se transformaram no primeiro mensageiro divino, um verdadeiro veículo do qual Deus se serviu para lhe enviar recados. No primeiro dia de caminhada, Abel subiu a montanha, desceu a montanha e chegou a Aranzazu, onde se localiza o Santuário de Nossa Senhora de Aranzazu, erguido depois de aí ter sido encontrada uma imagem da Virgem entre os espinhos, e onde Inácio fez a sua primeira paragem depois de sair de casa, em Loiola.
Ao caminhar em terreno lamacento e cheio de água, Abel tinha as sapatilhas encharcadas quando chegou ao fim da primeira etapa. Exausto, depois de caminhar 37 quilómetros, aceitou boleia nos últimos 500 metros, até ao local onde se ia hospedar. No dia seguinte, voltou a cruzar-se com o homem que lhe dera a boleia e que acabou também por lhe oferecer o almoço. Enquanto tomava esta refeição, a irmã do dono da pensão, colocou as sapatilhas junto a uma salamandra, na esperança de que secassem com o calor… mas estas, num instante, começaram a arder.

A generosidade dos jovens
NOS PASSOS DE INÁCIO - III
·         NOS PASSOS DE INÁCIO - III A generosidade dos jovens
26 Julho 2018
O lugar para dormir, a boleia na hora certa e a dica preciosa que garantiu uma boa noite de sono. Foi dos jovens que Abel, nesta caminhada entre Loiola e Manresa, recebeu maiores gestos de caridade. Porque sem medo e preconceitos confiaram.
Quando se viaja confiado na Providência, é certo que Deus colocará no caminho alguém para nos acudir. Mas nesta viagem de Abel por terras espanholas, seguindo os passos de Santo Inácio entre Loiola e Manresa, o jesuíta sentiu-se particularmente tocado pelos jovens. Foram eles, relata, que, “vendo um humilde peregrino a necessitar de ajuda, não tiveram preconceitos nem medo, confiaram”.
Apenas três exemplos dessa generosidade.
Ao chegar de noite a uma povoação, o P. Abel aproximou-se de um grupo de jovens que estava sentado num café, perguntando-lhes por um sítio para dormir. Uns indicaram os bancos dispostos na praça, outros não deram troco à conversa, mas um deles sentiu-se interpelado pelo peregrino e respondeu: “Vou-te deixar dormir no meu carro”. Raul, era o seu nome, levou-o até ao local onde estacionara o seu veículo desportivo e, num gesto de total confiança, indicou-lhe o banco da frente ao lado do condutor para descansar. Exausto, Abel alegrou-se com a oferta e enfiou-se no saco de cama pronto para dormir. Mas não passaram dez minutos até Raul voltar atrás. Tinha uma proposta ainda melhor para lhe oferecer: deixá-lo passar a noite numa casa, uma espécie de clube onde os jovens se reuniam à noite para conviver.
O jesuíta aceitou e assim que os rapazes deixaram o espaço, como combinado pelas 23.00, deitou-se e dormiu profundamente. “Fiquei tão agradecido que no dia seguinte escrevi-lhe uma carta e fui entregar à casa onde ele me dissera que morava. Fui recebido pela sua avó”, relata Abel, acrescentando que a atitude do jovem também emocionou a sua família.
Outra história, vivida uns dias depois, foi uma nova prova de que os mais novos são, por vezes, os mais capazes de confiar. Apesar das marcas a assinalar o caminho, e do guia que levava consigo, Abel perdeu-se. Percorreu zonas de montanha e searas até chegar a uma falésia, junto à linha do comboio, uma espécie de beco sem saída. Foi então obrigado a percorrer 30 metros entre silvas e canaviais. “Levava a mochila a abrir caminho, era a minha espada. Mas saí de lá em sangue, parecia um flagelado”, recorda. No final deste calvário, encontrou três jovens que pescavam tranquilamente no Rio Ebro, com os quais trocou algumas informações sobre o caminho a tomar e os 15 quilómetros que ainda tinha de percorrer até chegar à povoação. Cansado e dorido, o jesuíta seguiu viagem, mas dez minutos à frente foi surpreendido por dois dos três jovens que tinham pegado no carro e agora se ofereciam para o levar ao seu destino. “Tiveram compaixão de mim e vieram oferecer-me boleia, deixando-me à porta da igreja da localidade para onde ia”.
O último episódio destacado pelo P. Abel como exemplo da generosidade dos jovens começou com uma rejeição que depois abriu portas a uma doação. O peregrino pelos passos de Inácio tinha chegado a Montserrat mas o alojamento possível tinha um custo de 6 euros, o que o obrigou a ter de pedir dinheiro à porta do hotel. Foi de imediato expulso do local pelo jovem que estava na receção, até de forma rude. Mas foi o mesmo rapaz que, depois, saiu do hotel, mostrou-lhe um mapa e deu-lhe uma dica preciosa: se subisse até à ermida no cimo do monte, encontraria um local para ficar. Foi o que fez. A muito custo, caminhou durante meia hora a subir escadas, até chegar a uma pequena casa onde antigamente os monges passavam meses em solidão e que funciona agora como ponto de apoio para quem faz escalada na região. Um rapaz tomava conta desse espaço e, apesar de lhe ter pedido 5 euros pelo alojamento, Abel conseguiu pernoitar no espaço sem qualquer custo. “Ainda me fritou uma fatia de pão com azeite e queijo, que foi o meu jantar. Parecia que estava no céu”, recorda o padre jesuíta, agradecido.

E eu, que capacidade tenho de acolher e confiar no que é diferente e desconhecido?



 Acolhimento e rejeição

NOS PASSOS DE INÁCIO IV
·     NOS PASSOS DE INÁCIO IV Acolhimento e rejeição
27 Julho 2018
Poderá a verdadeira e pura alegria surgir de uma negação e rejeição? À partida parece difícil e Abel bem sentiu a dureza do não. Mas, recordando-se de Francisco de Assis, conseguiu transformá-lo em amor. Mesmo depois de um grande susto.
“Não te vou ajudar.” Foi uma frase curta e dura e que ao início causou muita mossa pois Abel não estava à espera de a escutar de um irmão sacerdote. Tinha acabado de chegar a uma localidade e, como sempre, procurou apoio junto da Igreja local. Encontrou o Padre A. numa esplanada, depois de o ter procurado em casa, e quando lhe pediu um sítio para dormir, para comer e tomar banho, a resposta foi fulminante: “Não te vou ajudar“. O peregrino nem conseguiu escutar os fundamentos da rejeição, tão atordoado ficou com a resposta. Acima de tudo, ficou magoado.
Lembrou-se então de um episódio da história de São Francisco de Assis e do ensinamento que este deu a Frei Leão sobre a origem da verdadeira alegria. Quando os dois frades caminhavam, Francisco explicou ao companheiro que se batessem à porta de um convento para pedir abrigo e lhes recusassem ajuda, e, mesmo assim, não sentissem raiva com essa rejeição, esse seria o exponente máximo da alegria que alguém poderia alcançar. “Imprimi esse texto de São Francisco, fotocopiei o meu cartão de cidadão e o cartão de sacerdote e escrevi ao Padre A., deixando a carta debaixo da porta. Escrevi-lhe dizendo que nunca me tinha sentido tão humilhado na vida, mas agradeci-lhe o facto de me ter dado a possibilidade de ser rejeitado em nome de Jesus. Fiquei contente porque ele humilhou-me e eu respondi com amor e caridade”.
Foram muitos dias de acolhimento e poucos de rejeição, sublinha Abel, que, ao longo da sua peregrinação de 26 dias entre Loiola e Manresa, contactou com 17 padres e foi sempre bem recebido pelos sítios onde andou. Passou por várias casas jesuítas e por muitas paróquias, mas ainda assim teve de dormir sem ser debaixo de um tecto por sete vezes, substituindo a cama por uns fardos de palha ou o quarto por uma casa abandonada.
Mas o dia em que foi verdadeiramente rejeitado acabou mal. E Abel sabe que poderia ter acabado de forma ainda pior, trágica. Já noite dentro, sem conseguir encontrar um lugar para descansar, o peregrino sentia-se tão cansado que dormiu dentro de um caixote do lixo. Estava frio e Abel temia adoecer se ficasse ao relento. Procurou um caixote cujos sacos não estavam sujos, fez uma cama com papelão onde se conseguiu enfiar e aí ficou dentro do saco de cama. Dormiu “bem”, garante, embora seja difícil imaginar o que isso significa, ainda mais depois de um dia a caminhar muitos quilómetros.
Mas foi sobressaltado às cinco da manhã. Era a hora da recolha do lixo e o caixote onde se encontrava foi içado e despejado dentro do camião. Assustado, Abel começou a gritar e o motorista da viatura que acompanhava a manobra através de uma câmara, apercebeu-se de algo estranho e parou a máquina de imediato, não sem antes esta engolir os pertences do peregrino.
Abel não ganhou para o susto. Apesar de não se ter magoado, a operação foi de tal forma complexa que, ainda de madrugada, foi preciso chamar a polícia, os bombeiros e os paramédicos, bem como as entidades locais. “Só pedi que não deixassem vir os jornalistas”. Não por si, afirma, mas por eles próprios. “Seria uma vergonha para eles, enquanto povo, que a história fosse relatada. Um povo que não é capaz de acolher um peregrino…”

E eu, sei lidar com a rejeição, transformando-a numa oportunidade para amar?de cada dia
  •  O pão nosso de cada dia
28 Julho 2018

Peregrinar confiado na Providência é garantir o pão nosso de cada dia. Foi essa a experiência do P. Abel Bandeira sj que caminhou de Loiola até Manresa, ao longo de 26 dias, sem nunca lhe faltar nada.

O pão nosso de cada dia. Este trecho da oração do Pai nosso ganhou um significado especial para Abel nesta peregrinação entre Loiola e Manresa. Ao caminhar 26 dias em pobreza total, sem dinheiro, comida, nem sítio para dormir, apenas vivendo daquilo que pedia e do que os que com ele se cruzavam lhe davam, o peregrino jesuíta sentiu-se completamente entregue à Providência. E, apesar de algumas peripécias, garante que nunca lhe faltou nada. “Todos os dias comi, nunca passei fome”, afirma. E bem ou mal instalado, encontrou sempre um local para passar a noite.
Mesmo no dia em que pensou que ia ficar sem alimento, Deus encarregou-se de lhe fazer chegar algo para comer. Ia a caminho de Manresa, quase na parte final da peregrinação, e já sentia um aperto no estômago, quando viu um saco de pão torrado colocado em cima de uma pedra. Ali, assim, do nada. Pegou nele, comeu-o, e numa oração de ação de graças, reconheceu: “Foi como se Deus me tivesse dito: ‘bem sei do que tu precisas'”.
Ao longo desta caminhada de 600 quilómetros, num trajeto físico mas também interior, o padre jesuíta reconhece que teve dificuldades em manter um ritmo exaustivo e regular de oração. “Tentei rezar alguns textos e fazer os exercícios espirituais. Mas por vezes o cansaço era tanto que se tornava impossível”. Contudo o sacerdote jesuíta explica que teve oportunidade de fazer uma oração diferente da habitual. “Aprendi a ver Deus na criação”, ali tão presente nos campos do vale do Ebro, um dos mais férteis do mundo, nos milhares de hectares de trigo, de árvores de fruto e de vinha que iam compondo a paisagem. “Vi a providência de Deus a trabalhar, 24 sobre 24 horas, como se Deus me dissesse: ‘o pão que vais comer amanhã já eu to estou a preparar hoje, pois quero dar-te o pão nosso a cada dia'”.
Tal como o cego de nascença que, no Evangelho de São João, vai à piscina de Siloé lavar-se e começa a ver, também o P. Abel Bandeira, padre já há 20 anos, sentiu que este caminho lhe permitiu começar a olhar as coisas de forma diferente. “Eu fui, lavei-me e fiquei a ver”, disse o cego depois de ter feito o que Jesus lhe dissera.“Assim se passou comigo. Comecei a ver coisas novas, a providência de Deus. Fiquei com mais fé”, afirma Abel, garantindo que esta confiança tornou-o até uma pessoa menos ansiosa e mais confiante.
E eu, consigo reconhecer e agradecer o pão que me é dado a cada dia?



 Uma oração pelo mundo

Um

29 Julho 2018

Caminhar aprendendo o valor da oração de intercessão. Abrir-se ao mundo, através das súplicas que recordam tantas necessidades. Deixar cair as pedras para erguer as mãos a Deus. Foi também esta a experiência do P. Abel, como Inácio.

“Se estamos todos com as mãos cheias de pedras, a atirar uns aos outros, quem pode levantar as mãos ao céu para rezar a Deus?” Esta foi uma interrogação que fez caminho com Abel, que foi meditando sobre os problemas e dramas do mundo ao mesmo tempo que percorria montes e vales rumo a Manresa. A oração é uma arma poderosa, relembra, citando Bento XVI que a classificava como mais forte do que as bombas, por isso o sacerdote jesuíta passou grande parte do tempo a rezar.
Caminhava e rezava. Não só através de uma oração abstrata ou contemplativa, mas também com preces concretas, lembrando pessoas específicas e intenções pontuais. De terço na mão, orava pelos que se iam cruzando com ele na estrada, o acolhiam à chegada às povoações, pelos que lhe pediram orações, pela Igreja universal e pela Companhia de Jesus. Orava pelo mundo.
“Rezei muito pela Terra Santa, partilha o P. Abel Bandeira, recordando que foi com o propósito de chegar a esse local sagrado que Inácio saiu de casa, em Loiola, e se fez ao caminho, chegando até Manresa. Nos dias em que o sacerdote peregrinava, a terra por onde andou Jesus voltava a ser notícia nos telejornais e palco de violência e morte, depois de o presidente dos Estados Unidos ter anunciado que iria mudar a localização da embaixada americana de Telavive para Jerusalém. Também sobre isso Abel rezou, pedindo a intervenção de Deus para ajudar a sarar um conflito antigo mas que parece não ter fim. “É preciso acreditar que este mundo que Deus criou para nós pode ser reparado”.
A esta intenção concreta da Terra Santa, o jesuíta juntou muitas outras, relacionadas com a atual situação social e política – desde a Coreia do Norte, à Síria ou outros locais marcados pela opressão e a guerra – , e “num mundo que parece não ter solução”. Mas Deus, afirma Abel, quer a nossa oração de intercessão e de reparação, “quer que hoje alguém levante os braços ao céu e diga ‘Senhor, tem piedade de nós’. Foi isso que tentei fazer nesta peregrinação”. Mas voltando ao início deste relato, por vezes parecemos demasiado concentrados em ocupar as mãos com pedras, em vez de as juntarmos e virarmos para Deus.

 

Tenho o mundo e as suas necessidades presentes na minha oração? 

Sacrifícios de um caminho orante

  •  Sacrifícios de um caminho orante
30 Julho 2018

Foi um sacrifício físico grande percorrer 650 quilómetros entre Loiola e Manresa, nem sempre nas melhores condições, mas também uma exigência interior. O peregrino Abel Bandeira sj diz que nada foi em vão. Foi uma entrega por amor a Deus.

Foram 650 quilómetros em 26 dias. Nesta peregrinação de Loiola até Manresa, pelo interior de Espanha seguindo os passos de Santo Inácio de Loiola (fundador da Companhia de Jesus, cuja festa se celebra amanhã), Abel reconhece que houve uma dose forte de sacrifício. Um esforço físico que nem sempre foi fácil de superar para o corpo mas que também exigiu muito da mente e da alma.
Foram muitas horas a andar, por vezes em condições difíceis, debaixo de chuva ou de sol, por entre as silvas, ou até mesmo sem sapatos, como aconteceu logo nos primeiros dias quando o peregrino ficou sem sandálias e teve de caminhar descalço durante cinco horas. “Sentia as pedras, sentia os picos nos pés. Escorreguei, caí na lama e levantei-me. Tinha de continuar”, conta o sacerdote jesuíta, de 55 anos, reconhecendo, contudo, que as dores e o cansaço não deixaram mazelas de maior.
O embate físico foi logo no primeiro dia, quando Abel fez quase 38 quilómetros só numa etapa, subindo a montanha e descendo-a pelo outro lado. “Sentia-me esgotado. À entrada do Santuário (de Nossa Senhora de Aranzazu) ia caindo de cansaço. Se não fosse um senhor dar-me um sumo de laranja, não tinha aguentado”, recorda, agora já com a clareza que um olhar à distância de dois meses sobre os acontecimentos impõe. Mas porquê este sacrifício, questiona em voz alta, tal como se questionaram os que com ele se cruzaram pela estrada e puderam testemunhar a dureza desta missão. Nada disto foi em vão, diz convictamente. Não foi um sacrifício sem sentido. “Fiz esta caminhada por amor. Entreguei-me a Deus na minha pobreza e quis oferecer a Deus as minhas dores e dificuldades para que, com isso, Ele pudesse espalhar graças por outras pessoas”, garante o P. Abel Bandeira.
Foi uma oração de reparação e intercessão, explica o jesuíta. Um caminho orante ou uma oração em caminho, através da qual o peregrino quis “dar a vida para que o mundo ficasse um pouco melhor”. Nesta atitude de oração profunda, o P. Abel Bandeira identificou-se com o sofrimento do próprio Jesus. “Para percebermos o que Cristo sentiu, temos de andar nos passos dele. E eu identifiquei-me com o Cristo que sofreu. É o mistério do sacrifício, dar a vida de forma diferente. O sacrifício faz parte da vida”.
E eu, consigo confiar as minhas dores e dificuldades a Deus?

Descobrir Inácio de Loiola

  •  Descobrir Inácio de Loiola
31 Julho 2018

No dia em que se assinala a festa de Santo Inácio, termina este relato da peregrinação do P. Abel Bandeira sj, que percorreu os passos do fundador dos jesuítas entre Loiola e Manresa. Um caminho sofrido mas de uma enorme consolação.

Descobrir Inácio de Loiola. A grande motivação da peregrinação do P. Abel Bandeira passou por aqui. No ano em que celebra 20 anos da sua ordenação sacerdotal, o jesuíta recuperou um sonho antigo e quis percorrer os caminhos outrora percorridos pelo seu “pai espiritual”, quando deixou a terra natal, Loiola, para caminhar até à Terra Santa, totalmente convertido a Deus.
“Quis sentir o que ele sentiu, perceber porque se enamorou de Cristo ao ponto de sair de casa com vestes mundanas e o coração centrado n’Ele”, confessa o jesuíta que, aos 55 anos, mantem o fascínio por Inácio peregrino e pelos milhares de quilómetros que percorreu. Não abundam as marcas inacianas ao longo deste trajeto, embora a paisagem rural se mantenha em grande parte do caminho, ajudando a imaginação a recuar ao século XVI. Mas o peregrino Abel viveu com emoção a passagem por Montserrat, onde Inácio deixou a espada e o punhal junto a uma imagem de Nossa Senhora e deu as suas vestes a um pobre, passando a trajar-se como um humilde peregrino.
Pelo caminho, Abel foi relendo a autobiografia do fundador da Companhia de Jesus, e sentindo como seus os espaços por onde foi passando. “Tocou-me muito passar no convento/hospital de Santa Luzia onde Inácio teve um êxtase de oito dias. E onde rezava e escrevia”, comenta Abel. Ou passar em Pedrola, terra onde Inácio teve um desentendimento com um mouro mas foi capaz de vencer o ódio com a caridade; ou ainda, por exemplo, visitar a Igreja de Santa Maria del Mar, já em Barcelona, onde Inácio pedia esmola.
Apesar de o desejo de Inácio ter sido chegar aos locais onde Jesus passara e vivera, na Terra Santa, – onde só chegaria anos mais tarde – foi em Manresa que o antigo guerreiro teve a experiência espiritual e mística mais marcante da sua vida. A chamada “visão do Cardoner” mudaria para sempre a sua visão das coisas e do modo como Deus está presente no mundo e conduziria, anos mais tarde, à fundação da Companhia de Jesus. Aí terá começado também a escrever os Exercícios Espirituais.
Abel caminhou um dia de cada vez, devagar, sem pressas nem ânsias de chegar. Mas confessa que ao final do dia alcançava sempre a consolação de vencer mais uma etapa. A chegada ao destino, em Manresa, 650 quilómetros depois de se ter feito ao caminho, teve, por isso, um gosto especial. “Até psicologicamente”, reconhece, “sentir que aos 55 anos consegui fazer uma coisa difícil ajudou-me bastante”. Espiritualmente, Abel sentiu uma enorme consolação e diz que só tem que agradecer a experiência que lhe foi dado viver. Tal como o cego que Jesus mandou lavar-se na piscina de Siloé, – e que no final disse “fui, lavei-me e comecei a ver” – também Abel reconhece a mudança que esta peregrinação operou na sua vida. “Rezei muito e comecei a ver melhor Deus na minha vida. Mudei a minha relação com Inácio e continuarei sempre à procura do que Deus quer que eu faça”.
Qual o traço de Santo Inácio que mais me inspira e interpela como cristão?