Mc
9,30-37 Na sua homilia, hoje em Kaunas (na Lituânia) o Papa Francisco
partiu do Evangelho do dia, onde São Marcos dedica grande parte ao ensinamento
de Jesus aos discípulos. É como se, a meio do caminho para Jerusalém, Jesus quisesse
que os seus discípulos renovassem a sua opção, sabendo que este seguimento
comportaria momentos de provação e sofrimento.
O evangelista lembra que Jesus anunciou a sua
Paixão em três ocasiões aos discípulos, que por três vezes expressaram sua
perplexidade e resistência a esta notícia. No entanto, o Senhor sempre lhes
deixou seu ensinamento, explicou o Papa:
“A vida cristã passa sempre por momentos de
cruz, que, às vezes, parecem intermináveis. As gerações passadas sentiram a
dureza do tempo da ocupação, a angústia dos que eram deportados, a incerteza da
sua volta, a vergonha da delação, da traição”.
Quantas vezes, - disse Francisco - o justo é
perseguido, sofre insultos e tormentos pelo fato de ser bom!
Mas, voltando ao Evangelho de hoje, Papa disse que
“os discípulos não queriam que Jesus falasse sobre sofrimento e cruz”; não
queriam saber de provações e angústias, porque, segundo São Marcos, o interesse
deles era outro: ao voltar para casa, discutiam sobre quem, entre eles, seria o
maior. E Francisco ponderou:
“Irmãos, o desejo de poder e de glória é o modo
mais comum de se comportarem aqueles que não conseguem sanar a memória da sua
história e, talvez, nem aceitam compromissos com o momento presente. Discutem
sobre quem mais se destacou e foi mais puro no passado, quem possui mais
direitos e tem mais privilégios. Assim, negamos a nossa história gloriosa por
ser feita de sacrifícios, esperança, luta, serviço e fadiga”.
Trata-se – continuou o Papa - de uma atitude
estéril e inútil, que recusa a construção do presente e da dolorosa realidade
do povo fiel. Sabendo o que os discípulos pensavam, - destacou o Santo Padre –
o Mestre propôs-lhes um antídoto para estas lutas de poder e recusa do
sacrifício: sentou-se com eles e colocou uma criança no meio deles; hoje, esta
criança poderia ser um pequenino qualquer, um pobre, a minoria étnica, o
desempregado, o migrante; talvez um idoso ou um jovem, que perderam o sentido
da sua existência. E Francisco refletiu:
“Trata-se disso: de uma Igreja ‘em saída’; não
devemos ter medo de sair e entregarmo-nos; não devemos ter medo de estar atrás
dos pequeninos, dos esquecidos, dos que vivem nas periferias existenciais.
Porém, devemos saber que este ‘sair’ implica, às vezes, deter o passo e
renunciar aos anseios, sabendo olhar, escutar e acompanhar o excluído da
sociedade”.
Eis o motivo pelo qual estamos aqui, hoje, - disse
Francisco - ansiosos de receber Jesus e a sua palavra, através da Eucaristia e
dos pequeninos. Por isso, o Papa fez os votos para que “o Senhor possa
reconciliar a nossa memória, acompanhar-nos no presente, apesar dos desafios e
das chagas do passado...;
Sigamos o Mestre como verdadeiros discípulos,
compartilhando das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens
do nosso tempo, sobretudo dos pobres e atribulados”.