domingo, 24 de fevereiro de 2019

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO VII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)


Lc 6, 27-38 Uma “revolução da misericórdia”, capaz de superar o instinto humano e a lei mundana da retaliação. Assim, "proclamamos ao mundo que é possível vencer o mal com o bem". Foi o que sugeriu o Papa na sua alocução que precedeu a Oração mariana do Angelus, neste VII domingo do Tempo Comum.
Dirigindo-se aos milhares de peregrinos presentes na Praça São Pedro num dia ensolarado e com baixas temperaturas, Francisco recordou que a ordem de Jesus “amar os vossos inimigos, fazer o bem a quem vos odeia e abençoar os que vos amaldiçoam” não é uma opção. E Jesus não ordena isto a todos, mas aos discípulos, “àqueles que o escutam”:
“Ele sabe muito bem que amar os inimigos ultrapassa as nossas possibilidades, mas para isso se fez homem: não para nos deixar assim como somos, mas para nos transformar em homens e mulheres capazes de um amor maior, aquele de seu e nosso Pai . Este é o amor que Jesus dá a quem o "escuta". E então isso se torna possível! Com Ele, graças ao seu amor, ao seu Espírito, nós podemos amar também aqueles que não nos amam, mesmo aqueles que nos fazem mal”. 
Deste modo – explica o Papa -  Jesus quer que em cada coração o amor de Deus triunfe sobre o ódio e o rancor.  Mas se a “lógica do amor, que culmina na cruz de Cristo, é o que caracteriza  o cristão e nos leva a ir de encontro a todos, com coração de irmãos (...), como é possível superar o instinto humano e a lei mundana da retaliação?”, questiona. 
A resposta, recorda Francisco, “é dada por Jesus na mesma página do Evangelho: "Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso": 
“Quem ouve Jesus, que se esforça em segui-lo, mesmo que isso tenha seu preço, torna-se filho de Deus e começa a se assemelhar realmente ao Pai que está nos Céus. Nos tornamos capazes de coisas que nunca teríamos pensado ser capazes dizer ou fazer, e das quais nos teríamos até mesmo envergonhado, mas que agora, pelo contrário, nos dão paz e alegria. Não temos mais necessidade de ser violentos, com as palavras e os gestos; nos descobrimos capazes de ternura e de bondade; e sentimos que tudo isso não vem de nós, mas d'Ele! E,  portanto, não nos vangloriamos disso, mas somos apenas agradecidos”. 
Não há nada maior e mais fecundo do que o amor – diz o Papa -, pois “ele confere à pessoa toda a sua dignidade, enquanto o ódio e a vingança a diminuem, deturpando a beleza da criatura feita à imagem de Deus”.
E ressalta, que  “esta ordem para responder ao insulto e ao erro com o amor, criou uma nova cultura no mundo: a "cultura da misericórdia - devemos aprendê-la bem, e praticá-la bem, esta cultura da misericórdia que dá vida a uma verdadeira revolução":
“É a revolução do amor, cujos protagonistas são os mártires de todos os tempos. E Jesus nos assegura que o nosso comportamento, marcado pelo amor para com aqueles que nos fazem mal, não será em vão. Ele diz: "Perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado (...) porque, com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
A exemplo de Deus que sempre nos perdoa – recordou o Santo Padre -  também nós devemos perdoar sempre, pois “se não perdoarmos completamente, não podemos pretender ser perdoados completamente”, também.
Pelo contrário, “se os nossos corações se abrem à misericórdia, se o perdão é selado com um abraço fraterno e se estreitam os laços de comunhão, nós proclamamos ao mundo que é possível  vencer o mal com o bem”:
"Às vezes para nós é mais fácil recordar as ofensas, os males que nos fizeram e não as coisas boas. São os "colecionadores de injustiças": somente recordam as coisas ruins que fizeram. E este não é o caminho. Devemos fazer o contrário, diz Jesus. Recordar as coisas boas é quando alguém vem com uma fofoca, que fala mal do outro, e dizer: "Mas, sim, quem sabe, mas ele tem isto de bom". Inverter o discurso. Esta é a revolução da misericórdia".
“Que a Virgem Maria – foi seu pedido ao final - nos ajude a deixar-nos tocar o coração por esta palavra santa de Jesus, queimando como fogo, que nos transforma e nos torna capazes de fazer o bem sem recompensa, testemunhando em toda parte a vitória do amor”.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO VI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)


O Papa Francisco, antes da Oração Mariana do Angelus deste domingo (17) de sol e ambiente primaveril, comenta o Evangelho das Bem-aventuranças na versão de São Lucas (Lc 7, 17.20-26). O Pontífice afirma que ter fé é confiar totalmente no Senhor, derrubando “ídolos mundanos”, e que a felicidade é estar com Deus, próximo dos pobres procurando não seguir os “profissionais da ilusão”.
O Pontífice começa explicando que o texto se articula “em quatro bem-aventuranças e quatro mandamentos formulados com a expressão ‘ai de vós’”. São palavras fortes e incisivas que Jesus usa para nos abrir os olhos. Francisco convida-nos, assim, “a refletir sobre o sentido profundo de ter fé, que consiste em confiarmos totalmente no Senhor”.
Deus está próximo dos “pobres, dos que têm fome, dos aflitos e perseguidos” para libertá-los das suas escravidões, diz o Papa, e dirige-se aos ricos, saciados, sorridentes e aclamados pelas pessoas com o “ai de vós” para “’despertá-los’ do engano perigoso do egoísmo”. 
“ Trata-se de derrubar os ídolos mundanos para abrir o coração ao Deus vivo e verdadeiro; só Ele pode dar à nossa existência aquela plenitude tão desejada e difícil de alcançar. ”
“São muitos, de fato, inclusive nos nossos dias, aqueles que se propõem como distribuidores de felicidade: vêm e prometem sucesso a curto prazo, grande retorno de fácil alcance, soluções mágicas para cada problema e assim por diante. E aqui é fácil escorregar, sem perceber, no pecado contra o primeiro mandamento, isto é, a idolatria, substituir Deus por um ídolo. Idolatria e ídolos parecem coisas de outros tempos, mas, na verdade, são de todos os tempos! Inclusive de hoje. Descrevem algumas posturas contemporâneas melhor que muitas análises sociológicas.”
Por isso Jesus abre-nos os olhos para a realidade, afirma o Papa. Somos felizes se estamos ao lado de Deus e “daquilo que não é efêmero, mas dura para a vida eterna”. Somos felizes se “estivermos próximos dos pobres, dos aflitos e de quem tem fome”, acrescenta o Pontífice, e “possuindo bens deste mundo”, mas conseguindo “compartilhar com os nossos irmãos”.
“As Bem-aventuranças de Jesus são uma mensagem decisiva que nos motiva a não recolocar a nossa crença nas coisas materiais e passageiras, a não procurar a felicidade seguindo os vendedores de fumaça que muitas vezes são vendedores de morte, profissionais da ilusão. Não, não devemos segui-los. Eles são incapazes de nos dar esperança. O Senhor ajuda-nos a abrir os olhos, a capturar um olhar mais penetrante sobre a realidade, a sarar da miopia crônica que o espírito mundano nos contamina.”
O Papa concluiu incentivando-nos a reconhecermos “aquilo que realmente nos enriquece, nos sacia, nos dá alegria e dignidade” e a tornarmo-nos, assim, “testemunhas da felicidade que não engana. A de Deus. Essa não decepciona nunca”.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O XXVII DIA MUNDIAL DO DOENTE (11.02.2019)


MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
27º Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro de 2019)
Boletim da Santa Sé 
«Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8)
Queridos irmãos e irmãs!
«Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8): estas são palavras pronunciadas por Jesus, quando enviou os apóstolos a espalhar o Evangelho, para que, através de gestos de amor gratuito, se propagasse o seu Reino.
Por ocasião do XXVII Dia Mundial do Doente, que será celebrado de modo solene em Calcutá, na Índia, a 11 de fevereiro de 2019, a Igreja – Mãe de todos os seus filhos, mas com uma solicitude especial pelos doentes – lembra que o caminho mais credível de evangelização são gestos de dom gratuito como os do Bom Samaritano. O cuidado dos doentes precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos, imediatos e simples, como uma carícia, pelos quais fazemos sentir ao outro que nos é «querido».
A vida é dom de Deus, pois – como adverte São Paulo – «que tens tu que não tenhas recebido?» (1 Cor 4, 7). E, precisamente porque é dom, a existência não pode ser considerada como mera possessão ou propriedade privada, sobretudo à vista das conquistas da medicina e da biotecnologia, que poderiam induzir o homem a ceder à tentação de manipular a «árvore da vida» (cf. Gn 3, 24).
Contra a cultura do descarte e da indiferença, cumpre-me afirmar que se há de colocar o dom como paradigma capaz de desafiar o individualismo e a fragmentação social dos nossos dias, para promover novos vínculos e várias formas de cooperação humana entre povos e culturas. Como pressuposto do dom, temos o diálogo, que abre espaços relacionais de crescimento e progresso humano capazes de romper os esquemas consolidados de exercício do poder na sociedade. O dar não se identifica com o ato de oferecer um presente, porque só se pode dizer tal se for um dar-se a si mesmo: não se pode reduzir a mera transferência duma propriedade ou dalgum objeto. Distingue-se de presentear, precisamente porque inclui o dom de si mesmo e supõe o desejo de estabelecer um vínculo. Assim, antes de mais nada, o dom é um reconhecimento recíproco, que constitui o caráter indispensável do vínculo social. No dom, há o reflexo do amor de Deus, que culmina na encarnação do Filho Jesus e na efusão do Espírito Santo.
Todo o homem é pobre, necessitado e indigente. Quando nascemos, para viver tivemos necessidade dos cuidados dos nossos pais; de forma semelhante, em cada fase e etapa da vida, cada um de nós nunca conseguirá, de todo, ver-se livre da necessidade e da ajuda alheia, nunca conseguirá arrancar de si mesmo o limite da impotência face a alguém ou a alguma coisa. Também esta é uma condição que carateriza o nosso ser de «criaturas». O reconhecimento leal desta verdade convida-nos a permanecer humildes e a praticar com coragem a solidariedade, como virtude indispensável à existência.
Esta consciência impele-nos a uma práxis responsável e responsabilizadora, tendo em vista um bem que é indivisivelmente pessoal e comum. Apenas quando o homem se concebe, não como um mundo fechado em si mesmo, mas como alguém que, por sua natureza, está ligado a todos os outros, originariamente sentidos como «irmãos», é possível uma práxis social solidária, orientada para o bem comum. Não devemos ter medo de nos reconhecermos necessitados e incapazes de nos darmos tudo aquilo de que teríamos necessidade, porque não conseguimos, sozinhos e apenas com as nossas forças, vencer todos os limites. Não temamos este reconhecimento, porque o próprio Deus, em Jesus, Se rebaixou (cf. Flp 2, 8), e rebaixa, até nós e até às nossas pobrezas para nos ajudar e dar aqueles bens que, sozinhos, nunca poderíamos ter.
Aproveitando a circunstância desta celebração solene na Índia, quero lembrar, com alegria e admiração, a figura da Santa Madre Teresa de Calcutá, um modelo de caridade que tornou visível o amor de Deus pelos pobres e os doentes. Como dizia na sua canonização, «Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma dispensadora generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos, através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles abandonados e descartados. (…) Inclinou-se sobre as pessoas indefesas, deixadas moribundas à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que Deus lhes dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes (…) da pobreza criada por eles mesmos. A misericórdia foi para ela o “sal”, que dava sabor a todas as suas obras, e a “luz” que iluminava a escuridão de todos aqueles que nem sequer tinham mais lágrimas para chorar pela sua pobreza e sofrimento. A sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece nos nossos dias como um testemunho eloquente da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres» (Homilia, 4/IX/2016).
A Santa Madre Teresa ajuda-nos a compreender que o único critério de ação deve ser o amor gratuito para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. O seu exemplo continua a guiar-nos na abertura de horizontes de alegria e esperança para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente para as pessoas que sofrem.
A gratuidade humana é o fermento da ação dos voluntários, que têm tanta importância no setor socio-sanitário e que vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom Samaritano. Agradeço e encorajo todas as associações de voluntariado que se ocupam do transporte e assistência dos doentes, aquelas que providenciam nas doações de sangue, tecidos e órgãos. Um campo especial onde a vossa presença expressa a solicitude da Igreja é o da tutela dos direitos dos doentes, sobretudo de quantos se veem afetados por patologias que exigem cuidados especiais, sem esquecer o campo da sensibilização e da prevenção. Revestem-se de importância fundamental os vossos serviços de voluntariado nas estruturas sanitárias e no domicílio, que vão da assistência sanitária ao apoio espiritual. Deles beneficiam tantas pessoas doentes, sós, idosas, com fragilidades psíquicas e motoras. Exorto-vos a continuar a ser sinal da presença da Igreja no mundo secularizado. O voluntário é um amigo desinteressado, a quem se pode confidenciar pensamentos e emoções; através da escuta, ele cria as condições para que o doente deixe de ser objeto passivo de cuidados para se tornar sujeito ativo e protagonista duma relação de reciprocidade, capaz de recuperar a esperança, mais disposto a aceitar as terapias. O voluntariado comunica valores, comportamentos e estilos de vida que, no centro, têm o fermento da doação. Deste modo realiza-se também a humanização dos tratamentos.
A dimensão da gratuidade deveria animar sobretudo as estruturas sanitárias católicas, porque é a lógica evangélica que qualifica a sua ação, quer nas zonas mais desenvolvidas quer nas mais carentes do mundo. As estruturas católicas são chamadas a expressar o sentido do dom, da gratuidade e da solidariedade, como resposta à lógica do lucro a todo o custo, do dar para receber, da exploração que não respeita as pessoas.
Exorto-vos a todos, nos vários níveis, a promover a cultura da gratuidade e do dom, indispensável para superar a cultura do lucro e do descarte. As instituições sanitárias católicas não deveriam cair no estilo empresarial, mas salvaguardar mais o cuidado da pessoa que o lucro. Sabemos que a saúde é relacional, depende da interação com os outros e precisa de confiança, amizade e solidariedade; é um bem que só se pode gozar «plenamente», se for partilhado. A alegria do dom gratuito é o indicador de saúde do cristão.
A todos vos confio a Maria, Salus infirmorum. Que Ela nos ajude a partilhar os dons recebidos com o espírito do diálogo e mútuo acolhimento, a viver como irmãos e irmãs cada um atento às necessidades dos outros, a saber dar com coração generoso, a aprender a alegria do serviço desinteressado. Com afeto, asseguro a todos a minha proximidade na oração e envio-vos de coração a Bênção Apostólica.
Vaticano, 25 de novembro de 2018
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
FRANCISCUS

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO V DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)


Lc 5,1-11 Na reflexão proposta aos milhares de peregrinos presentes na Praça São Pedro para o Angelus dominical deste V Domingo do tempo comum, o Papa enfatizou que a resposta de fé de Pedro ao lançar as redes, narrada no Evangelho de Lucas, é a mesma que “nós somos chamados a dar; é a atitude de disponibilidade que o Senhor pede a todos os seus discípulos, sobretudo àqueles que têm cargos de responsabilidade na Igreja”.  Uma “obediência confiante” que gera um resultado prodigioso.
 De fato, Pedro estava cansado e desiludido, pois não haviam pescado nada naquela noite, e é surpreendido pela atitude de Jesus que entra no barco, para assim poder falar à multidão que está nas margens do Mar da Galileia. Mas as palavras de Jesus “reabrem à confiança também o coração de Simão”. E com outro “movimento surpreendente”, Jesus diz-lhe: "Faz-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar". Inspirado pela presença de Jesus e iluminado pela sua Palavra, Pedro obedece.
É a resposta da fé, que também nós somos chamados a dar; é a atitude da disponibilidade que o Senhor pede a todos os seus discípulos, sobretudo àqueles que têm cargos de responsabilidade na Igreja. E a obediência confiante de Pedro gera um resultado prodigioso: ‘Assim o fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixes’”.
“Trata-se  - explicou o Santo Padre - de uma pesca milagrosa, sinal do poder da palavra de Jesus.
Quando nos colocamos com generosidade ao seu serviço, Ele faz grandes coisas em nós. Assim age com cada um de nós, pede-nos para acolhê-lo no barco da nossa vida, para compartilhar com ele e navegar um novo mar que se revela cheio de surpresas. O seu convite para sairmos pelo mar aberto da humanidade do nosso tempo, para sermos testemunhas de bondade e de misericórdia, dá um novo sentido à nossa existência, que muitas vezes corre o risco de debruçar-se sobre si mesma”. 
Às vezes, observa o Papa, “podemos ficar surpresos e hesitantes diante do chamamento que nos dirige o Divino Mestre, e somos tentados a rejeitá-lo por causa da nossa incapacidade”. Mesmo Pedro, depois daquela “incrível pesca”, disse de joelhos diante d’Aquele que já reconhece como “Senhor”, esta “bela e humilde oração”: "Afasta-te de mim, pois sou um pecador".
“Mas a resposta de Jesus é de encorajamento: ‘Não temas; de agora em diante serás pescador de homens’, porque Deus, se confiamos nele, liberta-nos do nosso pecado e abre diante de nós um novo horizonte: colaborar na sua missão”:
O maior milagre realizado por Jesus, por Simão e pelos outros pescadores desiludidos e cansados, não é tanto a rede cheia de peixes, mas tê-los ajudado a não cair vítimas da desilusão e do desânimo diante das derrotas. Abriu-os para se tornarem anunciadores e testemunhas da sua palavra e do reino de Deus. E a resposta dos discípulos foi imediata e total: ‘E, atracando as barcas à terra, dei­xaram tudo e seguiram-no’." 
“Que a Virgem Santa, modelo de imediata adesão à vontade de Deus – disse o Papa ao concluir -  nos ajude a sentir o fascínio do chamamento do Senhor, e nos torne disponíveis para colaborar com ele para anunciar em todos os lugares a sua palavra de salvação”.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

A JMJ e o MAGIS na primeira pessoa - P. Pedro Rocha Mendes, sj

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO IV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)


A liturgia deste IV domingo do Tempo Comum mostra a admiração dos concidadãos de Jesus ao verem que, um conterrâneo deles “o filho de José”, pretende ser o Cristo, o enviado do Pai.
Sendo um deles, disse Francisco, “eles consideram que deva mostrar esta sua estranha ‘pretensão’ fazendo milagres ali, em Nazaré, como fez nas cidades vizinhas”. “Mas Jesus não quer e não pode aceitar essa lógica, porque não corresponde ao plano de Deus: “Deus quer a fé, eles querem milagres, os sinais; Deus quer salvar todos, e eles querem um Messias em favor dos interesses deles. E para explicar a lógica de Deus, Jesus dá o exemplo de dois grandes profetas antigos: Elias e Eliseu, que Deus mandou curar e salvar pessoas não judias, de outros povos, mas que tinham confiado em sua palavra.”
Diante deste convite a abrir o coração deles à gratuidade e à universalidade da salvação, continuou o Pontífice, os cidadãos de Nazaré revoltam-se, e assumem mesmo uma atitude agressiva, que degenera a tal ponto que “se levantaram, o expulsaram da cidade e o conduziram até ao cimo da colina com a intenção de O precipitar de lá”. “A admiração do primeiro instante transformou-se numa agressão, numa rebelião contra Ele”, acrescentou o Papa.
O Santo Padre ressaltou que esta página do Evangelho (Lc 4,21-30) mostra-nos que “o ministério público de Jesus começa com uma rejeição e com uma ameaça de morte, paradoxalmente por parte de seus concidadãos”.
“Ao viver a missão a Ele confiada pelo Pai, Jesus sabe que deve enfrentar o cansaço, a rejeição, a perseguição e a derrota. Um preço que, ontem como hoje, a autêntica profecia é chamada a pagar.”
O Pontífice observou, ainda, que a rejeição não desencoraja Jesus, nem cessa o caminho e a fecundidade da sua ação profética. “Ele segue adiante no seu caminho, confiando no amor do Pai”, destacou.
“Também hoje, o mundo precisa ver profetas nos discípulos do Senhor, isto é, pessoas corajosas e perseverantes a responder à sua vocação cristã. Pessoas que seguem o ‘impulso’ do Espírito Santo, que as envia a anunciar esperança e salvação aos pobres e aos excluídos; pessoas que seguem a lógica da fé e não dos milagres; pessoas dedicadas ao serviço de todos, sem privilégios e exclusões. Em poucas palavras: pessoas que se abrem a acolher em si mesmas a vontade do Pai e se comprometem a testemunhá-la fielmente aos outros.”