Lc
15,1-3.11-32 Na homilia da missa celebrada, hoje, em Rabat
(Marrocos), o Papa Francisco comentou a parábola evangélica do Filho pródigo,
ícone da infinita misericórdia do Pai. A “maior riqueza do cristão é participar
deste amor”
’Tudo o que
é meu é teu’ (Lc 15, 31), diz o pai ao filho mais velho. E não se refere apenas
aos bens materiais, mas a ser participante do seu próprio amor e da sua
compaixão. Esta é a maior herança e riqueza do cristão. Com efeito, em vez de
nos medirmos ou classificarmos com base numa condição moral, social, étnica ou
religiosa, podemos reconhecer que existe outra condição que ninguém poderá
apagar ou aniquilar pois é um puro dom: a condição de filhos amados, esperados
e festejados pelo Pai”.
Este foi um dos comentários que o Papa
Francisco fez durante a sua homilia em Rabat depois da proclamação do
Evangelho da parábola do pai misericordioso, mais conhecida como a do Filho
pródigo. Uma parábola incômoda tanto para nós hoje, como para os homens e as
mulheres dos séculos passados. Uma parábola difícil de entender e ainda mais de
aceitar. Por que o Pai espera com ânsia o filho mais novo que desperdiçou e
esbanjou metade das riquezas da sua herança obtida antecipadamente? Por que é
que o Pai acolhe de braços abertos aquele filho malcheiroso que tinha acabado
como pastor de porcos depois de levar uma vida dissoluta? Por que organiza
quando ele regressa uma grande festa? Por que quase não o deixa falar,
acusar-se dos seus pecados e humilhar-se citando-os? Por que é que não o
castiga, não o obriga a uma justa penitência, não lhe impõe um período de
reabilitação como faríamos nós?
Na resposta a estas perguntas está o coração da
mensagem da misericórdia divina, gratuita e superabundante. A de um Deus para o
qual não há puros e impuros, mas todos são ajudados a se levantar, somente
deixando-se abraçar. Um Deus que não tem medo de entrar no escuro do pecado,
que busca toda a ocasião para perdoar. A misericórdia é uma característica
divina, longe das nossas mesquinharias e dos nossos cálculos.
Podemos dizer: todos nós nos reconhecemos no
comportamento do filho mais velho, que reage mal diante deste amor gratuito e
transbordante do Pai pelo outro filho. Aquele irmão menor que conheceu o abismo
do pecado, voltou com a esperança de ser readmitido não na casa paterna, mas
entre os servos da casa. E ao invés, se encontrou abraçado, voltando a ser –
sem méritos segundo os cálculos humanos – plenamente filho, alvo de um amor que
nunca se interrompeu e do qual ele, somente ele, quis se separar.
Nesta parábola tão difícil de aceitar por todos nós
“filhos maiores”, que nos consideramos superiores, corretos, obedientes,
diversos com relação aos “impuros” pecadores, há um grande ensinamento. O filho
maior é chamado a participar da festa pelo irmão reencontrado e é chamado
principalmente a reconhecer que a sua maior herança e riqueza é justamente
participar – procurando fazer sua – desta misericórdia sem fim.