domingo, 31 de março de 2019

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA (ANO C)



Lc 15,1-3.11-32 Na homilia da missa celebrada, hoje, em Rabat (Marrocos), o Papa Francisco comentou a parábola evangélica do Filho pródigo, ícone da infinita misericórdia do Pai. A “maior riqueza do cristão é participar deste amor”
 ’Tudo o que é meu é teu’ (Lc 15, 31), diz o pai ao filho mais velho. E não se refere apenas aos bens materiais, mas a ser participante do seu próprio amor e da sua compaixão. Esta é a maior herança e riqueza do cristão. Com efeito, em vez de nos medirmos ou classificarmos com base numa condição moral, social, étnica ou religiosa, podemos reconhecer que existe outra condição que ninguém poderá apagar ou aniquilar pois é um puro dom: a condição de filhos amados, esperados e festejados pelo Pai”.
Este foi um dos comentários que o Papa Francisco fez durante a sua homilia em Rabat depois da proclamação do Evangelho da parábola do pai misericordioso, mais conhecida como a do Filho pródigo. Uma parábola incômoda tanto para nós hoje, como para os homens e as mulheres dos séculos passados. Uma parábola difícil de entender e ainda mais de aceitar. Por que o Pai espera com ânsia o filho mais novo que desperdiçou e esbanjou metade das riquezas da sua herança obtida antecipadamente? Por que é que o Pai acolhe de braços abertos aquele filho malcheiroso que tinha acabado como pastor de porcos depois de levar uma vida dissoluta? Por que organiza quando ele regressa uma grande festa? Por que quase não o deixa falar, acusar-se dos seus pecados e humilhar-se citando-os? Por que é que não o castiga, não o obriga a uma justa penitência, não lhe impõe um período de reabilitação como faríamos nós?
Na resposta a estas perguntas está o coração da mensagem da misericórdia divina, gratuita e superabundante. A de um Deus para o qual não há puros e impuros, mas todos são ajudados a se levantar, somente deixando-se abraçar. Um Deus que não tem medo de entrar no escuro do pecado, que busca toda a ocasião para perdoar. A misericórdia é uma característica divina, longe das nossas mesquinharias e dos nossos cálculos.
Podemos dizer: todos nós nos reconhecemos no comportamento do filho mais velho, que reage mal diante deste amor gratuito e transbordante do Pai pelo outro filho. Aquele irmão menor que conheceu o abismo do pecado, voltou com a esperança de ser readmitido não na casa paterna, mas entre os servos da casa. E ao invés, se encontrou abraçado, voltando a ser – sem méritos segundo os cálculos humanos – plenamente filho, alvo de um amor que nunca se interrompeu e do qual ele, somente ele, quis se separar.
Nesta parábola tão difícil de aceitar por todos nós “filhos maiores”, que nos consideramos superiores, corretos, obedientes, diversos com relação aos “impuros” pecadores, há um grande ensinamento. O filho maior é chamado a participar da festa pelo irmão reencontrado e é chamado principalmente a reconhecer que a sua maior herança e riqueza é justamente participar – procurando fazer sua  – desta misericórdia sem fim.