Mt 18,15-20 Nós, que cremos, deveríamos
escutar hoje, mais do que nunca, o chamamento de Jesus para nos corrigirmos e
ajudarmos, mutuamente, a ser melhores. Jesus convida-nos, sobretudo, a actuar
com paciência e sem precipitação, aproximando-nos de maneira pessoal e amigável
daqueles que estão a agir de modo errado. “Se o teu irmão te ofender,
vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão”.
Quanto bem pode pode fazer uma crítica amiga e
leal, uma observação oportuna, um apoio sincero depois de nos termos
desorientado. Todo o homem é capaz de sair do pecado e voltar à razão e à
bondade. Porém, necessita, com frequência, de encontrar-se com alguém que
o ame de verdade, que o convide a interrogar-se e que lhe infunda um desejo
novo de verdade e de generosidade.
Talvez, o que mais muda muitas pessoas não são as
grandes ideias nem os belos pensamentos, mas o facto de ter-se encontrado na
vida com alguém que tenha sabido aproximar-se delas amigavelmente, ajudando-as
a renovarem-se.
Depois desta instrução sobre a correcção fraterna,
Mateus acrescenta três “ditos” de Jesus (cf. Mt 18,18-20). O primeiro (vers.
18) refere-se ao poder, conferido à comunidade, de “ligar” e “desligar”. Entre
os judeus, a expressão designava o poder para interpretar a Lei com autoridade,
para declarar o que era ou não permitido e para excluir ou reintroduzir alguém
na comunidade do Povo de Deus; aqui, significa que a comunidade (algum tempo
antes – cf. Mt 16,19 – Jesus dissera estas mesmas palavras a Pedro; mas aí Pedro
representava a totalidade da comunidade dos discípulos) tem o poder para
interpretar as palavras de Jesus, para acolher aqueles que aceitam as suas
propostas e para excluir aqueles que não estão dispostos a seguir o caminho que
Jesus propôs.
O segundo (vers. 19) sugere que as decisões graves
para a vida da comunidade devem ser tomadas em clima de oração. Assegura aos
discípulos, reunidos em oração, que o Pai os escutará.
O terceiro (vers. 20) garante aos discípulos a
presença de Jesus “no meio” da comunidade. Neste contexto, sugere que as
tentativas de correcção e de reconciliação entre irmãos, no seio da comunidade,
terão o apoio e a assistência de Jesus.
O texto do Evangelho, tirado do capítulo 18 de
Mateus, dedicado à vida da comunidade cristã, diz-nos que o amor fraterno exige
também um sentido de responsabilidade recíproca, pelo que, se o meu irmão
comete uma falta contra mim, devo usar de caridade para com ele e, antes de
tudo, falar-lhe pessoalmente, recordando-lhe que quanto disse ou fez não é bom.
Este modo de agir chama-se correcção fraterna: ela não é uma reacção à ofensa
de que se foi vítima, mas é movida pelo amor ao irmão. Santo Agostinho comenta:
«Aquele que te ofendeu, ao ofender-te, causou em si mesmo uma ferida grave, e
não te preocupas tu pela ferida de um teu irmão? ... Deves esquecer a ofensa
que recebeste, mas não a ferida de um teu irmão» (Discursos 82, 7)
(Bento XVI).