Mc 10,46-52 O
Evangelho do dia apresenta o episódio do cego Bartimeu sendo precedido na
primeira leitura pelo profeta Jeremias que em pleno desastre nacional, enquanto
o povo é deportado pelos inimigos, anuncia que “o Senhor salvou o seu
povo” “porque Ele é Pai (cf. 31, 9); e, como Pai, cuida dos seus filhos”
– afirmou o Papa.
Na sua homilia o Santo Padre referiu que “o
Evangelho de hoje liga-se diretamente à primeira Leitura: como o povo de Israel
foi libertado graças à paternidade de Deus, assim Bartimeu foi libertado graças
à compaixão de Jesus.” Jesus deixa-se comover e responde ao grito do Bartimeu:
“Jesus acaba de sair de Jericó. Mas Ele, apesar de
ter apenas iniciado o caminho mais importante, o caminho para Jerusalém,
detém-Se ainda para responder ao grito de Bartimeu. Deixa-Se comover pelo seu
pedido, interessa-Se pela sua situação. Não Se contenta em dar-lhe uma esmola,
mas quer encontrá-lo pessoalmente. Não lhe dá instruções nem respostas, mas faz
uma pergunta: «Que queres que te faça?» (Mc 10, 51).”
O Papa Francisco referiu um “detalhe interessante”:
Jesus pede aos seus discípulos que vão chamar Bartimeu e estes dirigem-se ao
cego usando duas palavras, que só Jesus utiliza no resto do Evangelho: coragem
e levanta-te – palavras de misericórdia como sublinhou o Papa:
“Primeiro, dizem-lhe “coragem!”, uma palavra que
significa, literalmente, “tem confiança, faz-te ânimo!” É que só o encontro com
Jesus dá ao homem a força para enfrentar as situações mais graves. A segunda
palavra é «levanta-te!», como Jesus dissera a tantos doentes, tomando-os pela
mão e curando-os. Os seus limitam-se a repetir as palavras encorajadoras e
libertadoras de Jesus, conduzindo diretamente a Ele sem fazer sermões.”
“A isto são chamados os discípulos de Jesus, também
hoje, especialmente hoje: pôr o homem em contacto com a Misericórdia compassiva
que salva. Quando o grito da humanidade se torna, como o de Bartimeu, ainda
mais forte, não há outra resposta senão adoptar as palavras de Jesus e,
sobretudo, imitar o seu coração. As situações de miséria e de conflitos são
para Deus ocasiões de misericórdia. Hoje é tempo de misericórdia!”
Mas há algumas tentações para quem segue Jesus. O
Evangelho põe em evidência pelo menos duas. A primeira é viver uma
“spiritualidade de miragem”, não parar, ser surdo, “estarmos com Jesus” mas
“não sermos como Jesus”, estar no seu grupo mas viver longe do seu coração:
“Podemos falar d’Ele e trabalhar para Ele, mas
viver longe do seu coração, que Se inclina para quem está ferido. Esta é a
tentação duma “espiritualidade da miragem”: podemos caminhar através dos
desertos da humanidade não vendo aquilo que realmente existe, mas o que nós
gostaríamos de ver; somos capazes de construir visões do mundo, mas não
aceitamos aquilo que o Senhor nos coloca diante dos olhos. Uma fé que não sabe
radicar-se na vida das pessoas, permanece árida e, em vez de oásis, cria outros
desertos.”
Há uma segunda tentação – assegurou o Papa – é a de
cair numa “fé de tabela”.
“Podemos caminhar com o povo de Deus, mas temos já
a nossa tabela de marcha, onde tudo está previsto: sabemos aonde ir e quanto
tempo gastar; todos devem respeitar os nossos ritmos e qualquer inconveniente
perturba-nos. Corremos o risco de nos tornarmos como “muitos” do Evangelho que
perdem a paciência e repreendem Bartimeu. Pouco antes repreenderam as crianças
(cf. 10, 13), agora o mendigo cego: quem incomoda ou não está à altura há que
excluí-lo. Jesus, pelo contrário, quer incluir, sobretudo quem está relegado
para a margem e grita por Ele. Estes, como Bartimeu, têm fé, porque saber-se
necessitado de salvação é a melhor maneira para encontrar Cristo.