Mt 21,28-32
A palavra-chave para “superar a hipocrisia, a duplicidade de vida, o
clericalismo que acompanha o legalismo” é o arrependimento, "que permite
não enrijecer-se, e transformar os “nãos” a Deus em “sim”, e os “sim” ao pecado
em “não” por amor do Senhor".
Com a celebração eucarística no Estádio de Ara, em
Bolonha, o Papa concluiu a sua visita pastoral iniciada na manhã deste domingo,
recordando que a Palavra de Deus, é uma Palavra viva, que “penetra a alma
e traz à luz os segredos e as contradições do coração” e que nunca devemos
esquecer os alimentos-base que sustentam o nosso caminho: “a Palavra, o
Pão, os pobres”.
O Santo Padre desenvolveu a sua homilia
inspirando-se na parábola dos 2 filhos que, ao pedido do pai para irem para a sua
vinha, um responde não, mas depois vai, enquanto o segundo diz sim, mas não
vai.
“Existe uma grande diferença – observou o Papa -
entre o primeiro filho, que é preguiçoso, e o segundo, que é hipócrita”. No
coração do primeiro, “ainda ressoava o convite do pai”, enquanto no do segundo,
“não obstante o sim, a voz do pai estava sepultada”: “A recordação do pai
despertou o primeiro filho da preguiça, enquanto o segundo, mesmo conhecendo o
bem, negou o dizer com o fazer. De fato, tornou-se impermeável à voz de Deus e
da consciência e assim havia abraçado sem problemas a duplicidade de vida”.
Com esta parábola – explica o Papa – Jesus coloca
dois caminhos diante de nós, “que nem sempre estamos prontos para dizer sim com
as palavras e as obras, porque somos pecadores”: “Mas podemos escolher ser pecadores em caminho,
que permanecem na escuta do Senhor e quando caem se arrependem e se
reerguem, como o primeiro filho; ou pecadores sentados, prontos a justificar-se
sempre e somente em palavras, segundo o que convém”.
Jesus dirige esta parábola – explicou Francisco – a
alguns chefes religiosos da época “que se assemelhavam ao filho de vida
dupla, enquanto as pessoas comuns se comportavam frequentemente como o outro
filho”: “Estes chefes sabiam e explicavam tudo, em modo formalmente
irrepreensível, como verdadeiros intelectuais da religião. Mas não tinham a
humildade de escutar, a coragem de interrogar-se, a força de arrepender-se”.
E Jesus repreende-os de forma severa, dizendo que
até mesmo os publicanos - que eram corruptos e traidores da pátria - os
precederiam no reino de Deus.
O problema destes chefes religiosos – observa o
Papa – é que erravam no modo de viver e pensar diante de Deus: “Eram, em
palavras e com os outros, inflexíveis custódios das tradições humanas,
incapazes de compreender que a vida segundo Deus é ‘em caminho’, que pede a
humildade de abrir-se, arrepender-se e recomeçar”.
Isto nos ensina – ressaltou o Pontífice – que não
existe uma vida cristã decidida numa conversa ao redor duma mesa,
“cientificamente construída, onde basta cumprir alguns ditames para aquietar a
consciência”: “A vida cristã é um caminho humilde de uma consciência nunca
rígida e sempre em relação com Deus, que sabe arrepender-se e entregar-se a Ele
nas suas pobrezas, sem nunca presumir bastar-se a si mesma. Assim, são
superadas as edições revistas e atualizadas daquele antigo mal, denunciado por
Jesus na parábola: a hipocrisia, a duplicidade de vida, o clericalismo que
acompanha o legalismo, a separação das pessoas”.
Neste sentido, disse o Papa, a palavra-chave é
“arrepender-se”: “É o arrependimento que permite não enrijecer-se, de
transformar os “nãos” a Deus em “sim”, e os “sim” ao pecado, em “não”, por amor
ao Senhor. A vontade do Pai, que a cada dia delicadamente fala à nossa
consciência, se realiza somente na forma de arrependimento e da conversão
contínua. Definitivamente no caminho de cada um existem duas estradas: ser
pecadores arrependidos ou pecadores hipócritas”.
O que realmente conta – afirma Francisco, “não são
os raciocínios que justificam e tentam salvar as aparências, mas um coração que
avança com o Senhor, luta a cada dia, se arrepende e retorna para Ele. Porque o
Senhor busca puros de coração, não puros “por fora’”.
A parábola é atual e diz respeito também às
relações, “nem sempre fáceis, entre pais e filhos”:
“Hoje, na velocidade das transformações uma
geração e outra, se constata mais forte a necessidade de autonomia do passado,
às vezes até mesmo com a rebelião. Mas após os fechamentos e os longos
silêncios de um lado ou de outro, é bom recuperar o encontro, mesmo se ainda
habitado por conflitos, que podem tornar-se um estímulo de um novo equilíbrio”.
Assim como na família – completa o Santo Padre
- “também na Igreja e na sociedade nunca se deve renunciar ao encontro, ao
diálogo, em buscar novas vias para caminhar juntos”.