Mt 21,
1-11 Disse o Sumo Pontífice no Angelus, deste Domingo de Ramos: “Esta
celebração tem, por assim dizer, duplo sabor: doce e amargo. É jubilosa e
dolorosa, pois nela celebramos o Senhor que entra em Jerusalém, aclamado pelos
seus discípulos como rei; ao mesmo tempo, porém, proclama-se solenemente a
narração evangélica de sua Paixão. Por isso, o nosso coração experimenta o
contraste pungente e prova, embora numa medida mínima, aquilo que deve ter
sentido Jesus em seu coração naquele dia, quando rejubilou com os seus amigos e
chorou sobre Jerusalém”. “Há trinta e dois anos a dimensão jubilosa deste
domingo tem sido enriquecida com a festa dos jovens: a Jornada Mundial da
Juventude, que, este ano, se celebra no âmbito diocesano, mas daqui a pouco
viverá, nesta Praça, um momento sempre emocionante, de horizontes abertos, com
a passagem da Cruz dos jovens de Cracóvia para os do Panamá.”
“O Evangelho, proclamado antes da procissão,
apresenta Jesus que desce do Monte das Oliveiras montado num jumentinho, sobre
o qual ainda ninguém se sentara; evidencia o entusiasmo dos discípulos, que
acompanham o Mestre com aclamações festivas; e pode-se, provavelmente, imaginar
que isso contagiou os adolescentes e os jovens da cidade, que se juntaram ao
cortejo com os seus gritos. O próprio Jesus reconhece neste jubiloso
acolhimento uma força irreprimível querida por Deus, respondendo assim aos
fariseus escandalizados: «Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras
gritarão».” “Mas este Jesus, cuja entrada na Cidade Santa
estava prevista precisamente assim nas Escrituras, não é um iludido que apregoa
ilusões, um profeta «new age», um vendedor de fumaça. Longe disso! É um Messias
bem definido, com a fisionomia concreta do servo, o servo de Deus e do homem
que caminha para a paixão; é o grande sofredor da dor humana”, frisou o Papa.
“Assim, enquanto festejamos o nosso Rei, pensemos
nos sofrimentos que Ele deverá padecer nesta Semana. Pensemos nas calúnias, nos
ultrajes, nas ciladas, nas traições, no abandono, no julgamento iníquo, nas
pancadas, na flagelação, na coroa de espinhos... e, por fim, no caminho da cruz
até à crucificação.” “Ele tinha dito claramente aos seus discípulos: «Se alguém
quer vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me». Nunca
prometeu honras nem sucessos. Os Evangelhos são claros. Sempre avisou os seus
amigos de que a sua estrada era aquela: a vitória final passaria através da
paixão e da cruz. E, para nós, vale o mesmo. Para seguir fielmente a Jesus,
peçamos a graça de o fazer não por palavras mas com as obras, e ter a paciência
de suportar a nossa cruz: não a recusar nem jogar fora, mas, com os olhos fixos
n’Ele, aceitá-la e carregá-la a cada dia.”
“Este Jesus, que aceita ser aclamado, mesmo sabendo
que O espera o «crucifica-o!», não nos pede para O contemplarmos apenas nos
quadros, nas fotografias, ou nos vídeos que circulam por aí. Não. Está presente
em muitos dos nossos irmãos e irmãs que hoje, sim hoje, padecem tribulações
como Ele: sofrem com o trabalho de escravos, sofrem com os dramas familiares,
as doenças... Sofrem por causa das guerras e do terrorismo, por causa dos
interesses que se movem por trás das armas que não cessam de matar. Homens e
mulheres enganados, violados na sua dignidade, descartados. Jesus está neles,
em cada um deles, e com aquele rosto desfigurado, com aquela voz rouca, pede
para ser enxergado, reconhecido, amado.”
“Não há outro Jesus: é o mesmo que entrou em
Jerusalém por entre o acenar de ramos de palmeira e oliveira. É o mesmo que foi
pregado na cruz e morreu entre dois ladrões. Não temos outro Senhor para além
d’Ele: Jesus, humilde Rei de justiça, misericórdia e paz.”