Mensagem de Quaresma 2017
"Converter-se em Família"
Celebrar a Quaresma, neste biénio em que a nossa Diocese de Setúbal focaliza a sua atenção
no tema da Família, constitui uma ocasião e um desafio de renovação para cada uma das
nossas famílias, para as nossas paróquias e para toda a diocese.
Converter-se à Família
"Converter-se em família" significa, antes de mais, que o caminho de conversão quaresmal,
assumido por cada um de nós diante de Deus, tem de começar no relacionamento com os
membros da nossa família, aqueles que nos são próximos e com os quais partilhamos o mais
importante da vida. Tantas vezes, vivemos na família como se ela fosse simplesmente um
endereço postal comum, uma pensão onde passamos a noite e usufruímos de alguns outros
serviços funcionais.
"Converter-se em família" significa, dirigir para ela a atenção, o coração, o afeto; transformar
os relacionamentos frios e simplesmente "funcionais", dando-lhes o calor do amor, do
interessar-se, do cuidar, do estar próximo, a começar pelo tempo que dedicamos uns aos
outros. A proximidade e o afeto são particularmente importantes quando alguém está
fragilizado pela idade, pela doença, pelo desemprego e a precariedade económica, pelas
dificuldades da vida. Este é o desafio que se coloca individualmente a cada um de nós:
converter-se em família, no sentido de converter-se à família: ao marido, à mulher, aos pais,
aos filhos, aos avós e a todos aqueles com quem constituímos esse ninho fundamental da vida.
Converter-se como Família
"Converter-se em família" quer dizer também que o caminho de conversão não pode ser
apenas uma questão individual. Temos de estar juntos como família para que ela mude. Nesta
Quaresma, somos chamados a sentar-nos juntos, em família, e decidir que sinais vamos dar,
que atitudes vamos assumir para sermos mais família, mais família cristã.
A fé tem de ter uma expressão concreta no dia-a-dia da nossa família. Neste sentido,
converter-se quer dizer, entre outras coisas, habituar-se a elevar o coração para Deus na
oração comum, por exemplo, às refeições; ler diariamente uma passagem da Palavra de Deus
que oriente o nosso caminho e alimente a nossa fé. É importante estarmos frente a frente na
partilha familiar, mas é igualmente importante voltarmo-nos todos para Deus, nosso Pai
comum, no silêncio e na oração da família.
Essa presença de Deus no nosso lar, vai ajudar-nos a perdoar uns aos outros como Ele nos
perdoa, a superar o egoísmo que impede a nossa comunhão, a criar a alegria que cura e anima
os membros da família que se encontram em dificuldade. Vai ajudar-nos a sermos, uns para
os outros, as mãos e o rosto de Deus que cuidam e infundem confiança e alegria.
Que não passe esta Quaresma sem que cada família se ponha de acordo sobre o seu caminho
de converter-se como família.
Converter-se em Família Solidária
A conversão ao Evangelho comporta sempre uma dimensão de atenção aos outros, para além
da porta da nossa casa, do círculo dos amigos, da coesão étnica ou nacional. Significa alargar
os horizontes da nossa atenção e preocupação ativa à totalidade da família humana, como faz
Deus, o Pai comum de toda a família humana.
É esse o sentido da penitência e do jejum da Quaresma. É o privar-se de algo de que gostamos
e que nos faz falta, para acudir a quem está em maior necessidade. No caminho de cada
família, não pode faltar este elemento concreto de conversão que a abre às necessidades de
outras famílias, na partilha dos bens e da ajuda fraterna. A Quaresma desafia cada família a
fazer este caminho em conjunto com a participação de todos os seus membros, para poupar
para quem precisa mais.
Converter-se em Família-Igreja
"Converter-se em família" tem igualmente um horizonte fundamental que é a família de Deus,
a Igreja, que é uma família de famílias. Assim como não se entende uma família em que os
membros não se reúnam à mesa, não falem uns com os outros e não se ajudem e amem, assim
também não se entende a família de Deus sem que nos reunamos à volta da mesa da
Eucaristia, da Palavra que Ele nos dirige, do encontro com os irmãos e irmãs filhos e filhas do
mesmo Pai do céu.
Embora nunca seja perfeita, a Igreja precisa de todos e de todas as famílias para se renovar,
anunciar o Evangelho, colaborar na construção de um mundo mais humano e solidário. Se
alguém falta, se faltam famílias, a Família-Igreja não está completa, não realiza o projeto do
Senhor, seu Pastor e Mestre. A conversão desta Quaresma, apresenta a cada um de nós o
convite e o desafio para estarmos presentes e participarmos ativamente na vida da
comunidade paroquial e diocesana, a começar pela participação na Eucaristia dominical e nas
atividades quaresmais oferecidas, onde se destaca a celebração do sacramento da
reconciliação.
Converter-se em Igreja atenta e solidária
Como cada uma das nossas famílias, também a nossa Diocese é chamada, em cada Quaresma,
a realizar sinais concretos de conversão, na escuta da Palavra, na comunhão fraterna e na
partilha dos bens.
Este ano, entre as várias iniciativas previstas a nível das paróquias e
vigararias, desejo sublinhar duas, a nível de toda a diocese:
a) As catequeses quaresmais, que têm como tema a família e que pretendem ajudar-nos a
viver com alegria e seriedade a conversão familiar e participar como tal na construção da
nossa Igreja e da nossa sociedade. Terão lugar aos domingos, às 16:00 h, nos seguintes locais:
12 de Março - Santa Maria do Barreiro
19 de Março - Sé Catedral – Setúbal
26 de Março - Santuário da Atalaia
02 de Abril - Santuário de Cristo Rei – Almada
b) A Renúncia Quaresmal, que pretende reunir aquilo que cada família conseguiu poupar com
a sua penitência solidária em favor dos que se encontram em maior necessidade. Cada
paróquia terá disponíveis envelopes especiais para recolher estes contributos nos dois últimos
domingos da Quaresma, e enviá-los para a Diocese.
A exemplo de outros anos, uma parte do produto da Renúncia Quaresmal destina-se a um
objetivo interno da diocese e outra a uma necessidade solidária com os que mais
desprotegidos. A nível interno, vamos em auxílio da comunidade paroquial de Arrentela, a
braços com uma grande dívida, que está a impedir a sua vida e desenvolvimento. A nível
externo, o que for recolhido destinar-se-á a constituir um fundo para auxiliar famílias de
refugiados que buscam uma vida livre da destruição e da guerra nos seus países.
Que o Espírito do Senhor nos conduza, nesta Quaresma, a uma verdadeira conversão das
nossas famílias e da nossa Igreja, na escuta da sua Palavra, na oração nas nossas famílias e
comunidades, na abertura às necessidades daqueles que nos cercam, tornando-nos
ativamente misericordiosos e solidários na construção de um mundo mais humano, fraterno
e em paz.
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal