O Papa Francisco denuncia na sua mensagem para o 48.º Dia
Mundial da Paz o “fenómeno abominável” da escravatura e do tráfico de pessoas,
apelando ao compromisso de governos, empresas, religiões e sociedade civil.
“Ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e
mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver
em condições semelhantes às da escravatura”, escreve.
Na segunda mensagem para esta celebração anual,
assinalada a 1 de janeiro, o Papa escolheu como tema ‘Já não escravos, mas
irmãos’, condenando a “rejeição do outro, maus-tratos às pessoas, violação da
dignidade e dos direitos fundamentais, institucionalização de desigualdades”.
Francisco fala sobre as “múltiplas faces da escravatura”,
recordando trabalhadores e trabalhadoras, incluindo menores, “escravizados nos
mais diversos setores”; os imigrantes remetidos para a clandestinidade ou para
“condições indignas” de vida e trabalho.
“Sim! Penso no «trabalho escravo»”, alerta o Papa,
desafiando as empresas a “garantir aos seus empregados condições de trabalho
dignas e salários adequados” e a “vigiar para que não tenham lugar, nas cadeias
de distribuição, formas de servidão ou tráfico de pessoas humanas”.
A mensagem alude ainda às redes de prostituição, aos
casamentos forçados, ao tráfico e comercialização de órgãos, às
crianças-soldados, aos pedintes, ao recrutamento para produção ou venda de
drogas e a formas disfarçadas de adoção internacional.
O Papa chama a atenção para “aqueles que são raptados e
mantidos em cativeiro por grupos terroristas”, servindo como “combatentes” ou
como “escravas sexuais”.
“O flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem
fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais
marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade”, assinala a mensagem.
Face à dimensão atual do problema, Francisco propõe um
compromisso global de “prevenção, proteção das vítimas e ação judicial contra
os responsáveis” pelas formas de escravatura e tráfico humanos.
“Tal como as organizações criminosas usam redes globais
para alcançar os seus objetivos, assim também a ação para vencer este fenómeno
requer um esforço comum e igualmente global por parte dos diferentes atores que
compõem a sociedade”, explica.
O Papa espera uma “mobilização de dimensões comparáveis
às do próprio fenómeno” para combater o “flagelo da escravidão contemporânea”,
pedindo às instituições e a cada um que “não se tornem cúmplices deste mal, não
afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados
de liberdade e dignidade”.
No início do mês de Dezembro, o Papa uniu-se a vários líderes
religiosos mundiais, no Vaticano, numa declaração comum pela erradicação da
escravatura até 2020.
Francisco refere que as sociedades humanas conhecem o
fenómeno da escravatura “desde tempos imemoriais” e que esta foi formalmente
abolida no mundo “na sequência duma evolução positiva da consciência da
humanidade”.
“Na raiz da escravatura, está uma conceção da pessoa
humana que admite a possibilidade de a tratar como um objeto”, precisa.
Partindo da Bíblia, o Papa assinala que, como irmãos e
irmãs, “todas as pessoas estão, por natureza, relacionadas umas com as outras”
e que a “a realidade negativa do pecado” interrompe esta fraternidade.
A mensagem para o Dia
Mundial da Paz 2015 deixa uma oração “a fim de que cessem as guerras, os
conflitos e os inúmeros sofrimentos provocados quer pela mão do homem quer por
velhas e novas epidemias e pelos efeitos devastadores das calamidades
naturais”.