Quarenta dias após a Páscoa da Ressurreição, a
Igreja celebra a Ascensão do Senhor. Em Portugal e noutros países, como a
quinta-feira da VI semana de Páscoa, dia em que se cumprem os quarenta dias
depois da Ressurreição, não é feriado, a celebração da Ascensão foi transferida
para o VII Domingo de Páscoa. No entanto, tal mudança pode ser uma mais-valia
catequética que demonstra o carácter pascal da Ascensão de Cristo.
A Ascensão é a subida do Senhor aos céus depois da
ressurreição; é o mistério da glorificação de Jesus ao triunfar, pela
ressurreição, da sua morte na cruz. “A ascensão é o cumprimento integral da
ressurreição e assinala a participação de Cristo, na sua humanidade, no poder e
na autoridade do próprio Deus” (Enciclopédia Christos).
O capítulo XXIV do evangelho de Lucas insiste
várias vezes na necessidade do Mistério Pascal de Cristo (morte e
ressurreição). No entanto, na terceira vez que retoma o tema da necessidade do
Messias sofrer e ressuscitar, em Lc XXIV, o evangelista junta também a
necessidade da pregação: “havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o
perdão dos pecados a todas as nações”. Podemos então concluir que a pregação/a
missão é algo vinculado a Jesus e ao seu mistério Pascal. Na verdade, a missão
confiada aos discípulos é a pregação no nome de Jesus (“havia de ser pregado em
seu nome”) e que deve ter como conteúdos o arrependimento e o perdão dos
pecados. “Conversão teológica, isto é, que o Crucificado é Revelação gloriosa
de Deus, e não ignomínia e derrota! Perdão: significa que o Amor de Deus é maior
que o nosso pecado!” (António Couto).
Outra das características da pregação/missão dos
apóstolos é a universalidade (“a todas as nações, começando por Jerusalém”).
Cristo Ressuscitado envia os seus discípulos a anunciar o evangelho a todo
mundo a partir de Jerusalém. Não nos podemos esquecer que é este o esquema
geográfico da obra lucana. O evangelho de Lucas começa em Jerusalém com a
anunciação do anjo a Zacarias no templo de Jerusalém e o livro dos Actos dos
Apóstolos termina com Paulo em Roma.
Para o desempenho desta missão, o Senhor Jesus
promete aos seus discípulos o dom do Espírito Santo: “Eu vos enviarei Aquele
que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais
revestidos com a força do alto”. A pregação/missão só é possível na força do
Espírito.
Celebrar a Ascensão de Jesus é um convite à
esperança e à missão. Um convite à esperança porque ao subir aos céus, Cristo
introduz o Homem, que tinha assumido na encarnação, na glória de Deus Pai. Um
convite à missão porque é aqui que o Ressuscitado confia, de uma maneira
definitiva e solene, aos seus discípulos a missão eclesial. (P. Nuno Ventura Martins, missionário passionista)