Lc 22,14-23,56 O Papa Francisco presidiu à missa, deste Domingo de
Ramos e da Paixão do Senhor (14/04), na Praça São Pedro, que contou com a
participação de milhares de fiéis.
Na sua homilia, Francisco destacou que Jesus nos mostra no
Evangelho deste domingo “como enfrentar os momentos difíceis e as tentações
mais insidiosas, guardando no coração uma paz que não é isolamento, nem ficar
impassível mas é um confiante abandono ao Pai e à sua vontade de salvação, de
vida e misericórdia”.
Na sua entrada em Jerusalém, Jesus “também nos
mostra o caminho. Nesse acontecimento, o maligno, o príncipe deste mundo, tinha
uma carta para jogar: a carta do triunfalismo, e o Senhor respondeu
permanecendo fiel ao seu caminho, o caminho da humildade”.
Segundo o Papa, “o triunfalismo procura tornar a
meta mais próxima por meio de atalhos e falsos comprometimentos. Aposta na
subida para o carro do vencedor. O triunfalismo vive de gestos e palavras, que
não passaram pelo caminho da cruz; alimenta-se da comparação com os outros,
julgando-os sempre piores, defeituosos e falhados... Uma forma subtil de
triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais pérfida
tentação que ameaça a Igreja. Jesus destruiu o triunfalismo com a sua Paixão”.
“O Senhor realmente aceitou e alegrou-se com a
iniciativa do povo, com os jovens que gritavam o seu nome, aclamando-o Rei e
Messias. O seu coração rejubilava ao ver o entusiasmo e a festa dos pobres de
Israel, de tal maneira que, aos fariseus que lhe pediam para censurar os
discípulos pelas suas escandalosas aclamações, Jesus respondeu: «Se eles se
calarem, as pedras gritarão». Humildade não significa negar a realidade, e
Jesus é realmente o Messias, o Rei.”
O Pontífice frisou que “ao mesmo tempo o
coração de Cristo encontra-se noutro caminho, no caminho santo que só Ele e o
Pai conhecem: aquele que vai da «condição divina» à «condição de servo», o
caminho da humilhação na obediência «até à morte e morte de cruz».”
Jesus “sabe que, para chegar ao verdadeiro triunfo,
deve dar espaço a Deus; e, para dar espaço a Deus, há somente uma
maneira: o despojamento, o esvaziamento de si mesmo.
Calar, rezar, humilhar-se. Com a cruz, não se pode negociar: é abraçá-la ou recusá-la.
E, com a sua humilhação, Jesus quis abrir-nos o caminho da fé e
preceder-nos nele”.
O Papa recordou que, atrás de Jesus, a primeira a
percorrer esse caminho “foi a sua Mãe, Maria, a primeira discípula.
A Virgem e os santos tiveram que padecer para caminhar na fé e na vontade de
Deus. No meio dos acontecimentos duros e dolorosos da vida, responder com a fé
custa «um particular aperto do coração». É a noite da fé. Mas, só desta
noite é que desponta a aurora da ressurreição. Aos pés da cruz, Maria repensou
nas palavras com as quais o Anjo lhe anunciou o seu Filho: «Ele será grande
(…). O Senhor Deus dar-lhe-à o trono de seu pai David, reinará para sempre
sobre a casa de Jacob e o seu reino não terá fim».”
Francisco sublinhou que “no Gólgota, Maria se depara
com a negação total daquela promessa: o seu Filho agoniza numa cruz como um
malfeitor. Deste modo o triunfalismo, destruído pela humilhação de Jesus, foi
igualmente destruído no coração da Mãe; ambos souberam calar”. Depois de Maria,
vários santos e santas “seguiram Jesus pelo caminho da humildade e da
obediência”.
Segundo o Papa, “é impressionante o
silêncio de Jesus na sua Paixão. Vence inclusivamente a tentação de
responder, de ser «mediático». Nos momentos de escuridão e grande tribulação, é
preciso ficar calado, ter a coragem de calar, contanto que seja um calar manso
e não rancoroso”.
“A mansidão do silêncio nos fará parecer ainda mais
frágeis, mais humilhados, e então o demónio, ganhando coragem, aparecerá. Será
necessário resistir-lhe em silêncio, «conservando a posição», mas com a mesma
atitude de Jesus. Ele sabe que a guerra é entre Deus e o príncipe deste mundo,
e não se trata de empunhar a espada, mas de permanecer calmos e firmes na fé.
Enquanto esperamos que o Senhor venha e acalme a tempestade, com o nosso
testemunho silencioso na oração, demos a nós mesmos e aos outros a «razão da
esperança que está em [nós]»”, concluiu Francisco.