domingo, 14 de abril de 2019

REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO SOBRE O EVANGELHO DO DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR (ANO C)


Lc 22,14-23,56 O Papa Francisco presidiu à missa, deste Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (14/04), na Praça São Pedro, que contou com a participação de milhares de fiéis.
Na sua homilia, Francisco destacou que Jesus nos mostra no Evangelho deste domingo “como enfrentar os momentos difíceis e as tentações mais insidiosas, guardando no coração uma paz que não é isolamento, nem ficar impassível mas é um confiante abandono ao Pai e à sua vontade de salvação, de vida e misericórdia”.
Na sua entrada em Jerusalém, Jesus “também nos mostra o caminho. Nesse acontecimento, o maligno, o príncipe deste mundo, tinha uma carta para jogar: a carta do triunfalismo, e o Senhor respondeu permanecendo fiel ao seu caminho, o caminho da humildade”.
Segundo o Papa, “o triunfalismo procura tornar a meta mais próxima por meio de atalhos e falsos comprometimentos. Aposta na subida para o carro do vencedor. O triunfalismo vive de gestos e palavras, que não passaram pelo caminho da cruz; alimenta-se da comparação com os outros, julgando-os sempre piores, defeituosos e falhados... Uma forma subtil de triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais pérfida tentação que ameaça a Igreja. Jesus destruiu o triunfalismo com a sua Paixão”.
“O Senhor realmente aceitou e alegrou-se com a iniciativa do povo, com os jovens que gritavam o seu nome, aclamando-o Rei e Messias. O seu coração rejubilava ao ver o entusiasmo e a festa dos pobres de Israel, de tal maneira que, aos fariseus que lhe pediam para censurar os discípulos pelas suas escandalosas aclamações, Jesus respondeu: «Se eles se calarem, as pedras gritarão». Humildade não significa negar a realidade, e Jesus é realmente o Messias, o Rei.”
O Pontífice frisou que “ao mesmo tempo o coração de Cristo encontra-se noutro caminho, no caminho santo que só Ele e o Pai conhecem: aquele que vai da «condição divina» à «condição de servo», o caminho da humilhação na obediência «até à morte e morte de cruz».”
Jesus “sabe que, para chegar ao verdadeiro triunfo, deve dar espaço a Deus; e, para dar espaço a Deus, há somente uma maneira: o despojamento, o esvaziamento de si mesmo. Calar, rezar, humilhar-se. Com a cruz, não se pode negociar: é abraçá-la ou recusá-la. E, com a sua humilhação, Jesus quis abrir-nos o caminho da fé e preceder-nos nele”.
O Papa recordou que, atrás de Jesus, a primeira a percorrer esse caminho “foi a sua Mãe, Maria, a primeira discípula. A Virgem e os santos tiveram que padecer para caminhar na fé e na vontade de Deus. No meio dos acontecimentos duros e dolorosos da vida, responder com a fé custa «um particular aperto do coração». É a noite da fé. Mas, só desta noite é que desponta a aurora da ressurreição. Aos pés da cruz, Maria repensou nas palavras com as quais o Anjo lhe anunciou o seu Filho: «Ele será grande (…). O Senhor Deus dar-lhe-à o trono de seu pai David, reinará para sempre sobre a casa de Jacob e o seu reino não terá fim».”
Francisco sublinhou que “no Gólgota, Maria se depara com a negação total daquela promessa: o seu Filho agoniza numa cruz como um malfeitor. Deste modo o triunfalismo, destruído pela humilhação de Jesus, foi igualmente destruído no coração da Mãe; ambos souberam calar”. Depois de Maria, vários santos e santas “seguiram Jesus pelo caminho da humildade e da obediência”.
Segundo o Papa, “é impressionante o silêncio de Jesus na sua Paixão. Vence inclusivamente a tentação de responder, de ser «mediático». Nos momentos de escuridão e grande tribulação, é preciso ficar calado, ter a coragem de calar, contanto que seja um calar manso e não rancoroso”.
“A mansidão do silêncio nos fará parecer ainda mais frágeis, mais humilhados, e então o demónio, ganhando coragem, aparecerá. Será necessário resistir-lhe em silêncio, «conservando a posição», mas com a mesma atitude de Jesus. Ele sabe que a guerra é entre Deus e o príncipe deste mundo, e não se trata de empunhar a espada, mas de permanecer calmos e firmes na fé. Enquanto esperamos que o Senhor venha e acalme a tempestade, com o nosso testemunho silencioso na oração, demos a nós mesmos e aos outros a «razão da esperança que está em [nós]»”, concluiu Francisco.