“O que devo fazer para receber em herança a vida
eterna?”. A pergunta deste desconhecido – que pode ser cada um de nós – narrada
no Evangelho de Marcos, ofereceu ao Pontífice a inspiração para falar em
sua homilia sobre
a radicalidade exigida no seguimento sincero de Jesus.
Jesus fixou o olhar no homem e amou-o, mudando-lhe
a perspectiva, “pede-lhe para passar da observância das leis ao dom de si
mesmo, do trabalhar para
si ao estar com Ele. E faz-lhe uma proposta «cortante» de vida: «Vende tudo o
que tens, dá o dinheiro aos pobres (…), vem e segue-Me.»”
A mesma proposta faz Jesus a cada um de nós. E para
ser dele – observa o Papa – “não basta não fazer nada de mal”, ou segui-lo
apenas quando nos apetece, ou ainda "ficar contentes com observar
preceitos, dar esmolas e recitar algumas orações”, mas devemos encontrar n’Ele
o Deus que sempre nos ama, o sentido da nossa vida, a força para nos
entregarmos.
Ao dizer para vender tudo o que tem e dar o
dinheiro aos pobres, Jesus pede a cada um de nós “para deixar aquilo que torna pesado o coração,
esvaziar-se de bens para dar lugar a Ele, único bem”: “Não se pode seguir verdadeiramente a Jesus, quando se está estivado de
coisas. Pois, se o coração estiver repleto de bens, não haverá espaço para o
Senhor, que Se tornará uma coisa mais entre as outras. Por isso, a riqueza é
perigosa e – di-lo Jesus – torna difícil até mesmo salvar-se. Não, porque Deus
seja severo; não! O problema está do nosso lado: o muito que temos e o muito
que ambicionamos sufocam-nos o coração e tornam-nos incapazes de amar (…).
Quando se coloca no centro o dinheiro, vemos que não há lugar para Deus; e não
há lugar sequer para o homem”.
“Jesus é radical – reitera o Papa - dá
tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração indiviso”. E pergunta: “Também hoje Se nos dá como Pão vivo;
poderemos nós, em troca, dar-Lhe as migalhas? A Ele, que Se fez nosso servo até
ao ponto de Se deixar crucificar por nós, não Lhe podemos responder apenas com
a observância de alguns preceitos. A Ele, que nos oferece a vida eterna, não
podemos dar qualquer bocado de tempo. Jesus não Se contenta com uma
«percentagem de amor»: não podemos amá-Lo a vinte, cinquenta ou sessenta por
cento. Ou tudo ou nada”.
“O nosso
coração é como um íman: deixa-se atrair pelo amor, mas só se pode apegar a um
lado e tem de escolher: amar a Deus ou as riquezas do mundo; viver para amar ou
viver para si mesmo”: “Perguntemo-nos
de que lado estamos nós... Perguntemo-nos a que ponto nos encontramos na nossa
história de amor com Deus... Contentamo-nos com alguns preceitos ou seguimos
Jesus como enamorados, prontos verdadeiramente a deixar tudo por Ele? Jesus
pergunta a cada um e a todos nós como Igreja em caminho: somos uma Igreja que
se limita a pregar bons preceitos ou uma Igreja-esposa, que pelo seu Senhor se
lança no amor? Seguimo-Lo verdadeiramente ou voltamos aos passos do mundo, como
aquele homem? Em suma, basta-nos Jesus ou procuramos as seguranças do
mundo?”
Peçamos a graça – foi a exortação de Francisco - de
saber deixar por amor
do Senhor "as riquezas, os sonhos de funções e poderes, as estruturas já
inadequadas para o anúncio do Evangelho, os pesos que travam a missão, os laços
que nos ligam ao mundo”
“Sem um salto em frente no amor - disse o Papa
- a nossa vida e a nossa Igreja adoecem de «autocomplacência
egocêntrica»”, procurando a alegria em qualquer prazer passageiro. “Fechamo-nos
numa tagarelice estéril, acomodamo-nos na monotonia duma vida cristã sem ardor,
onde um pouco de narcisismo cobre a tristeza de permanecermos inacabados”.
Foi o que aconteceu com aquele homem que
“retirou-se pesaroso” – disse o Papa. “Embora tivesse encontrado Jesus e
recebido o seu olhar amoroso, foi-se embora triste. A tristeza é a prova do
amor inacabado. É o sinal dum coração tíbio. Pelo contrário, um coração
aliviado dos bens, que ama livremente o Senhor, espalha sempre a alegria, aquela alegria de que hoje
temos tanta necessidade”.
“Hoje - prosseguiu o Santo Padre - Jesus
convida-nos a voltar às fontes da alegria, que são o encontro com Ele, a opção
corajosa de arriscar para O seguir, o gosto de deixar tudo para abraçar o seu
caminho. Os Santos percorreram este caminho.”