Mc. 10, 47-52 “Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós,
adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir
o coração, vos enchemos os ouvidos”: disse o Papa Francisco hoje, de manhã, na
homilia da missa deste XXX Domingo do Tempo Comum, celebrada na Basílica de São
Pedro, no encerramento do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. Na homilia, o
Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia, que nos traz o episódio da cura do
cego Bartimeu feita por Jesus, do qual na sua reflexão propôs algumas
indicações aos padres sinodais e aos jovens para o caminho de fé da Igreja.
Bartimeu é o último que segue Jesus ao longo do
caminho: “de mendigo na margem da estrada para Jericó, torna-se discípulo que
vai juntamente com os outros para Jerusalém. Também nós caminhamos juntos,
‘fizemos sínodo’ e agora este Evangelho corrobora três passos fundamentais no
caminho da fé”: escutar, fazer-se próximo e testemunhar, apontou o Santo Padre.
“O primeiro
passo para ajudar o caminho da fé é escutar. É o apostolado do ouvido: escutar,
antes de falar”, ressaltou. Referindo-se à atitude de muitos que estavam com
Jesus, que repreenderam Bartimeu para que estivesse calado, disse que estes
“seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos”, e que este é um risco do
qual sempre devemos nos precaver.
Ao contrário, para Jesus, o grito de quem pede
ajuda não é um transtorno que estorva o caminho, mas uma questão vital. Como é
importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos
aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo. Ouvir com
amor, com paciência, como Deus faz connosco, com as nossas orações muitas vezes
repetitivas. Deus nunca Se cansa, sempre Se alegra quando O procuramos.
Peçamos, também nós, a graça dum coração dócil a escutar, exortou Francisco.
Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre disse com
veemência:
“Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos
amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa
para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que, também para nós, a vossa
vida é preciosa, mais ainda necessária para se avançar.”
Depois da escuta, o Papa apontou um segundo passo
para acompanhar o caminho da fé: fazer-se próximo.
Vejamos Jesus, disse, “que não delega em ninguém da
‘grande multidão’ que O seguia, mas encontra Ele pessoalmente Bartimeu.
Diz-lhe: ‘Que queres que Eu faça por ti?’. (...) É assim que Deus procede,
envolvendo-Se pessoalmente com um amor de predileção por cada um. Na sua
maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem: assim a fé germina na vida”. A
fé passa para a vida.
“Quando a fé se concentra apenas em formulações
doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à cabeça, sem tocar o coração. E quando
se concentra apenas na ação, corre o risco de tornar-se moralismo e reduzir-se
ao social. Ao contrário, a fé é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa
existência. Não podemos ser doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar
para a frente a obra de Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos
intimamente a Ele, em comunhão uns com os outros, próximso dos irmãos.
Proximidade: aqui está o segredo para transmitir, não algum aspeto secundário,
mas o coração da fé.”
Francisco prosseguiu fazendo uma advertência: “Existe
frequentemente aquela tentação que reaparece tantas vezes na Escritura: lavar
as mãos, desinteressar-se. É o que faz a multidão no Evangelho de hoje, é o que
fez Caim com Abel, é o que fará Pilatos com Jesus: lavar as mãos. Nós, pelo
contrário, queremos imitar Jesus e, como Ele, meter as mãos na massa, sujá-las.
Ele, o caminho (cf. Jo 14, 6), por Bartimeu deteve-Se ao longo da estrada; Ele,
a luz do mundo (cf. Jo 9, 5), inclinou-Se sobre um cego”.
Reconhecemos que o Senhor sujou as mãos por cada um
de nós e, fixando a Cruz, “recomecemos de lá, da lembrança de Deus que Se fez
meu próximo no pecado e na morte. Fez-Se meu próximo: tudo começa de lá”,
observou o Papa. “E, quando por amor d’Ele também nós nos fazemos próximos,
tornamo-nos portadores de vida nova: não mestres de todos, não especialistas do
sagrado, mas testemunhas do amor que salva.”
“Testemunhar é
o terceiro passo”, frisou o Santo Padre. “Não é cristão esperar que os irmãos
inquietos batam às nossas portas; somos nós que devemos ir ter com eles, não
lhes levando a nós mesmos, mas Jesus. Ele manda-nos, como àqueles discípulos,
para encorajar e levantar em seu nome. Manda-nos dizer a cada um: ‘Deus pede
para te deixares amar por Ele’.”
“Quantas vezes – continuou Francisco –, em vez
desta mensagem libertadora de salvação, nos levamos a nós mesmos, às nossas
‘receitas’, às nossas ‘etiquetas’ na Igreja! Quantas vezes, em vez de fazermos nossas as palavras do Senhor, despachamos como palavra d’Ele as nossas ideias!
Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das nossas instituições que a
presença amiga de Jesus! Então aparecemos como uma ONG, uma organização para-estatal,
e não como a comunidade dos redimidos que vivem a alegria do Senhor.”
“A fé é
questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro,
palpita o coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas
o testemunho da nossa vida.”