segunda-feira, 24 de junho de 2019

REFLEXÃO SOBRE O EVANGELHO DO XII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)

Lc. 9, 18-24 O evangelho deste domingo começa com a indicação de que Jesus se encontrava a orar. Depois de rezar, Jesus começa por fazer uma indagação aos seus discípulos sobre o que pensam os homens sobre Ele. É curioso que para os seus contemporâneos Jesus não representa nenhuma novidade. Na verdade, a resposta que os discípulos dão a Jesus (“uns, dizem que és João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou”), mostra que os contemporâneos de Jesus vêem-no como um homem em continuação com o passado, como um simples homem bom e justo, um profeta. Os contemporâneos de Jesus ainda não descobriram a verdadeira originalidade e novidade de Jesus, ainda não descobriram em Jesus o salvador prometido. Situação semelhante também acontece hoje. Para muitos Jesus é só um homem bom e justo e nada mais do que isso. Muitas das opiniões que ouvimos sobre Jesus reduzem-no a muito pouco, não captam a verdadeira identidade de Jesus.
No entanto, Jesus não se contenta só em saber o que diz a humanidade em geral sobre Ele. O Senhor quer uma resposta que comprometa cada um dos discípulos pessoalmente. Dizer o que os outros pensam de Jesus é fácil pois limitamo-nos a dizer a opinião dos outros e não nos comprometemos com a resposta dada, porque, afinal de contas, a opinião é dos outros e não minha. No entanto, o Senhor quer uma resposta que comprometa cada um dos discípulos pessoalmente. Assim sendo, depois de uma pergunta mais geral, Jesus interroga aqueles que lhe são mais íntimos, aqueles que o seguem e que compartem a vida com Ele sobre o lugar que ocupa nas suas vidas. “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Esta pergunta que Jesus fez aos seus discípulos há dois mil anos continua a fazê-la a cada um dos homens que hoje se propõe a segui-lo. Hoje como ontem, os discípulos são convidados a revelar as suas expectativas sobre Jesus, o lugar que Ele ocupa nas suas vidas. Esta é uma das perguntas essenciais do itinerário cristão, pois a resposta a esta pergunta revela se Jesus é o fundamento da nossa vida e leva-nos a um compromisso.
O discípulo que prontamente responde à pergunta do Mestre é Pedro. Pedro compromete-se ao responder que Jesus é o Messias. Ante esta resposta, Jesus ordena que os seus discípulos não revelem a sua identidade a ninguém. Na verdade, Jesus é o Messias, mas não o messias político e vitorioso que a multidão esperava. Jesus é o Messias, o enviado de Deus para a salvação do seu povo, mas pela doação da sua vida na cruz, pelo caminho do servo sofredor de Isaías (cf. Is 53).
Assim sendo, Jesus “proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: o filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escrivas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”.
Do messianismo que o mestre assume resulta um estilo de vida próprio dos discípulos. Assim sendo, depois do seu primeiro anúncio da Paixão Jesus manifesta as condições necessárias para o seguirem: “Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me”.
Infelizmente, muitos dos discípulos do Senhor crucificado continuam a ter uma imagem do messianismo de Jesus desfigurada e, consequentemente, um seguimento desfigurado. Muitos desejavam que o messianismo de Cristo fosse um messianismo de uma revolução única e exclusivamente social e política. Outros desejavam que o messianismo de Jesus fosse única e exclusivamente espiritual. Outros, por sua vez, desejavam que Cristo fosse um messias que restaurasse de novo a antiga ordem, o ‘status quo’. No entanto, Jesus não se deixa aprisionar pelos nossos esquemas e pelas nossas expectativas. Jesus, com a sua paixão, morte e ressurreição contínua a contrariar e a destruir as expectativas de triunfo e de poder de cada um dos seus discípulos.
Todos e cada um dos discípulos de Jesus de Nazaré devem confrontar a sua imagem de Jesus com o Senhor Crucificado. Cristo Crucificado tem de ser o critério hermenêutico e fundacional do pensar e do actuar dos seus discípulos. Os discípulos de Cristo são os seguidores do Senhor Crucificado e por isso, e a exemplo de Jesus, devem seguir o caminho da entrega da sua vida por amor. Do messianismo que o mestre assume resulta um estilo de vida próprio dos discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Os discípulos do Senhor Jesus, devem seguir o mesmo caminho do mestre.
Assim sendo, o discípulo tem de fazer silêncio diante da cruz de Cristo, tem de “olhar para aquele a quem trespassaram” (Jo 19, 37). Na verdade, é na cruz Cristo que se revela o verdadeiro rosto de Deus e se desmascaram todas as falsas imagens de Deus e expectativas humanas. Isto demonstra a importância que tem a contemplação da Cruz de Cristo na vida cristã. Assim, devemos pedir que o Senhor derrame sobre nós o seu espírito de piedade e de súplica para que olhemos para Aquele que foi trespassado e assim nos lamentemos e lavemos dos nossos pecados, como se afirmava na leitura da profecia de Zacarias.
Que a celebração deste domingo nos ajude a contemplar Aquele que foi trespassado. Na verdade, só olhando para a cruz de Cristo é que descobrimos quem é Jesus e qual o caminho que devemos seguir. (P. Nuno Ventura Martins - missionário passionista)