Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!
Com alegria e gratidão, partilhamos estes momentos de oração que
nos introduzem no Domingo da Misericórdia, tão desejado por São João Paulo II
para satisfazer um pedido de Santa Faustina. Os testemunhos que nos foram
oferecidos – e que agradecemos – e as leituras que ouvimos abrem clareiras de
luz e de esperança para entrar no grande oceano da misericórdia de Deus.
Quantas são as faces da misericórdia com que Ele vem ao nosso encontro? São
verdadeiramente muitas; é impossível descrevê-las todas, porque a misericórdia de
Deus cresce sem cessar. Deus nunca Se cansa de a exprimir, e nós não deveríamos
jamais recebê-la, procurá-la e desejá-la por hábito. É sempre algo de novo que
gera surpresa e maravilha à vista da imaginação criadora de Deus, quando vem ao
nosso encontro com o seu amor.
Deus revelou-Se, manifestando várias vezes o seu nome; este nome é
«misericordioso» (cf. Ex 34, 6). Tal como é grande e infinita a
natureza de Deus, assim é grande e infinita a sua misericórdia, de tal modo que
se revela uma árdua tarefa conseguir descrevê-la em todos os seus aspetos.
Repassando as páginas da Sagrada Escritura, vemos que a misericórdia é, antes
de mais nada, a proximidade de Deus ao seu povo. Uma proximidade que se
manifesta principalmente como ajuda e proteção. É a proximidade dum pai e duma
mãe que se espelha numa bela imagem do profeta Oseias: «Segurava-os com laços
humanos, com laços de amor, fui para ele como os que levantam uma criancinha
contra o seu rosto; inclinei-me para ele, para lhe dar de comer» (11, 4). É muito
expressiva esta imagem: Deus pega em cada um de nós e levanta-nos até ao seu
rosto. Quanta ternura contém e quanto amor manifesta! Pensei nesta palavra do
profeta quando vi o logótipo do Jubileu. Jesus não só leva aos seus ombros a
humanidade, mas tem o seu rosto tão chegado ao de Adão, que os dois rostos
parecem fundir-se num só.
Nós não temos um Deus que não saiba compreender e compadecer-Se
das nossas fraquezas (cf. Heb 4, 15). Pelo contrário! Foi
precisamente em virtude da sua misericórdia que Deus Se fez um de nós: «Pela
sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem.
Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma
vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se
verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» (Gaudium
et spes, 22). Por conseguinte, em Jesus, podemos não só palpar a
misericórdia do Pai, mas somos impelidos a tornar-nos nós mesmos instrumentos
da sua misericórdia. Falar de misericórdia pode ser fácil; mais difícil é
tornar-se suas testemunhas na vida concreta. Trata-se dum percurso que dura
toda a vida e não deveria registar interrupções. Jesus disse-nos que devemos
ser «misericordiosos como o Pai» (cf. Lc 6, 36).
Muitas são, portanto, as faces com que se apresenta a misericórdia
de Deus! É-nos dada a conhecer como proximidade e ternura, mas, em virtude
disto, também como compaixão e partilha, como consolação e perdão. Quem dela
mais recebe, mais é chamado a oferecer, a partilhar; não pode ser mantida
oculta nem retida só para nós mesmos. É algo que faz arder o coração e o
desafia a amar, reconhecendo a face de Jesus Cristo, sobretudo em quem está
mais longe, fraco, abandonado, confuso e marginalizado. A misericórdia vai à
procura da ovelha perdida e, quando a encontra, irradia uma alegria contagiosa.
A misericórdia sabe olhar cada pessoa nos olhos; cada uma delas é preciosa para
ela, porque cada uma é única.
Queridos irmãos e irmãs, a misericórdia não pode jamais deixar-nos
tranquilos. É o amor de Cristo que nos «inquieta» enquanto não tivermos
alcançado o objetivo; que nos impele a abraçar e estreitar a nós, a envolver
quantos necessitam de misericórdia, para permitir que todos sejam reconciliados
com o Pai (cf. 2 Cor 5, 14-20). Não devemos ter medo; é um amor que
nos alcança e envolve de tal maneira que se antecipa a nós mesmos,
permitindo-nos reconhecer a sua face na dos irmãos. Deixemo-nos conduzir
docilmente por este amor, e tornar-nos-emos misericordiosos como o Pai.
Para isso é bom que seja o Espírito Santo a guiar os nossos
passos: Ele é o Amor, Ele é a misericórdia que é comunicada aos nossos
corações. Não ponhamos obstáculos à sua ação vivificante, mas sigamo-Lo
docilmente pelas sendas que nos aponta. Permaneçamos de coração aberto, para
que o Espírito possa transformá-lo; e assim, perdoados e reconciliados, nos
tornemos testemunhas da alegria que brota de ter encontrado o Senhor
Ressuscitado, vivo no meio de nós.